Do ponto de vista Geopolítico a Turquia é de importância inquestionável, está situada entre Europa e Ásia, tem mais de 80 milhões de habitantes e tem IDH alto.
Em 10 dias visitando a Turquia tive uma percepção bastante positiva por onde andei, senti um País em crescimento, uma certa sensação de segurança, um patrimônio cultural extraordinário e sítios naturais e de belezas artísticas surpreendentes.
Claro, me baseio apenas na percepção do turista sem observar dados e informações estatísticas mais apuradas, mas achei um Pais menos desigual, os carros lá são mais simples, a alimentação baseada em proteínas de origem vegetal, peixes e aves, e poucos sinais de pobreza extrema. Mesmo sabendo que os locais turísticos são sujeitos a maiores atenção e cuidados, pude observar esses sinais positivos. É bom lembrar que a inflação é galopante, mas eles tem uma espécie de anteparo e proteção cambial de moedas fortes (dolar, euro), mesmo porque tem um pé na Europa e outro na Ásia.
De tão interessante foi o passeio, que espero um dia poder retornar a Turquia, se as condições físicas e financeiras permitirem.
Saímos dia 31/5/2024 de Fortaleza para São Paulo pela Gol e logo no aeroporto de Fortaleza tropecei na bagagem de uma senhora e machuquei o mesmo braço esquerdo que tinha amanhecido inflamado dias atrás sem motivo aparente. Pensei com meus botões, cair no começo de uma viagem dessa não é nada bom. O segundo susto, com o preço do taxi avulso de Guarulhos até a casa da Sirley em São Paulo, R$ 200,00. Absurdo. Consegui negociar por R$ 170,00.
Na próxima viagem levo menos bagagem, apenas o necessário. Ah, nunca esqueçam o guarda-chuva. Se não chover, protege contra o sol que pode ser cruel nestes novos tempos de mudanças climáticas e intrusos.
Fomos muito bem recebidos pela querida prima Sirley, grande anfitriã na sua casa em São Paulo. No dia seguinte, feriado de primeiro de maio, passear e depois descansar o corpo para a viagem de 13 hs direto de São Paulo para Istambul.
Nesses dias em São Paulo Sirley recebeu a Fabiola prima da Eunice que trouxe uma bela orquídea. Ganhei um vinho branco do Alexandre, seu marido dentista e paulista de Santos, muito agradável e comunicativo. Fabiola exerce a medicina em São Paulo, eles nos brindaram no dia seguinte num local chique com um vinho e jantar na capital paulista. No sábado tomamos mais um vinho com a Carla, e almoçamos na casa da Sirley um delicioso bacalhau com o seu neto Pedro e sua filha Thalita, seguimos depois para o aeroporto de Guarulhos.
Após 13 horas de voo direto de São Paulo chegamos em Istambul no dia 5/5, num excelente e confortável voo pela Turkish Airlines, sem nenhum contratempo, zero turbulência e com grande mordomia. Nesse voo passamos pertinho de Fortaleza, antes de atravessarmos o Atlântico, para alcançar o continente Africano, o avião mostrava um mapa onde a gente sobrevoava, entramos por Dakar no Senegal, pude anotar locais com nomes complicados como, Adrar na Argelia, cidade num oásis do deserto de Saara, Agadir no Marrocos, entre outras. Os lugares ocupados no avião eram diferenciados, um pouco mais caros (1400 reais) tornaram a viagem melhor ainda. Viajamos junto de uma Libanesa grávida, muito saudosa do marido que ficara em São Paulo
Chegamos finalmente em Istambul. Aeroporto gigantesco. Ficamos um pouco perdidos e desorientados naquele mundo diferente e esquisito, espaços de vão livres enormes, idioma inteligível, totalmente estranho, nem o inglês se lia ou ouvia. Preocupado com a balela do ship para não ser surpreendido com custos de operadora, não fiz nem uma coisa nem outra. Um grupo se formou com turistas do sul do Brasil, todos procurando saber onde era a esteira de recolher a bagagem, o tal do portão B, que caprichosamente era o último do enorme aeroporto de Istambul. Conheci o carioca Jose Guimaraes, que vinha pela Abreu e imaginei, seria um grande companheiro de viagem. Nós dois ficamos tateando atrás do portão B, e a muito custo encontramos. Não deu tempo providenciar a operadora adequada, ficamos no modo avião, sem ship e sem comunicação normal com o Brasil. Daria uma sugestão: quem for para a Turquia compre aqui mesmo o ship e não sintam-se isolados no destino. Enfim, dias 4 e 5 de maio foram de desembarque, deslocamento e trânsito em Istambul, a maior cidade da Turquia e da Europa e a única no mundo que ocupa 2 continentes, Europa e Ásia. Utilizamos o volcher do aeroporto e 40 min depois estávamos no excelente hotel ELITE WORLD. A noite adoramos sua excelente sopa de aspargos por 350 liras turcas, mais ou menos 10 euros.
No dia seguinte, saímos de Ancara – capital da Turquia e viajamos 230 km em direção a Capadócia, terra dos cavalos bonitos. Vemos ao longo das paisagens percorridas, inúmeros manadas de cavalos, muitos rebanhos de ovinos, poucos rebanhos de bovinos. Escassa presença de pessoas isoladas ou em grupos no campo trabalhando à terra, os equipamentos empregados na maioria são de pequeno e médio porte.
Na região de Capadócia existem 3 cidades-polo turísticas, ficamos em Urgup, dentre os seus inúmeros hotéis, no Mustafa Capadócia Resort, alguns companheiros de viagem ficaram num hotel encravado numa rocha, uma caverna com todo o conforto e acomodação de um 5 estrelas. Nosso ônibus foi busca-los cedo da manhã e eu achei um barato. No nosso Mustafa, Urgup – Nevsherir, dormimos cedo com as malas arrumadas para um café as 3 hs da manhã se não quiséssemos perder o sonhado passeio de balão no dia 9, e irmos para o local adequado para subir no balão. Previsto pagarmos 200 a 280 euros/pessoa para subir se as condições meteorológicas assim o permitissem, paguei 800 euros (eu e Eunice), muito além do previsto, mas fomos ao passeio de balão ao amanhecer na Capadócia 5 em ponto da manhã, o balão subiu com 25 pessoas, achei muito caro. Fazendo os cálculos grosseiramente, totaliza uma arrecadação bruta/balão/hora de 10.000 euros.
Cesar e Eunice apreciando, do balão, os céus da Capadócia
Chegamos no horário, uma fila meio desorganizada, notei falta de uma escada mais segura, enfim, entramos desajeitados neste mais leve do que o ar. Um belo espetáculo é a vista daquele horizonte cedo e aparência lunar da manhã cheios de balões carregados de felizes turistas, agora mais leves, com menos euros nos bolsos. Subimos e foi emocionante, talvez uns 800 metros, de instantes em instantes, uma língua de fogo ardia no interior do balão para expandir o gás, com a zoada de um dragão que tornava a viagem mais emocionante ainda
Na descida percebi que nosso balão iria pousar entre duas colinas íngremes e de cima lançaram umas cordas seguradas pela equipe de apoio que nos conduziu a uma plataforma de pouso sobre uma camionete e esse pessoal ajudou os passageiros a descer do cesto para a terra firme. Nos receberam com algumas garrafas de champagne, após os efusivos drinques, entregaram a cada um de nós um certificado de comprovação da viagem.
CAPADOCIA, é uma região famosa e turística da Turquia e o nome significa terra dos cavalos belos. Ressalte-se, que em toda a meseta e paisagens turcas raras vezes vi extensas criações de bovinos, vi muito cavalo e ovinos. Industrias de açúcar de beterraba, também tem bastante, plantios de oliveira, trigo, cevada. Inclusive papoulas. Existem também muitas rosas tanto em cultivos como no modo silvestres, por sinal belíssimas, vi também a bela, rara e triste rosa negra. Não vi muita gente nos cultivos, presença de equipamentos tecnológicos de médio porte. Toda a região já foi palco de inúmeros vulcões e após intensa atividade sísmica e geológica deu origem a um mundo diferente e de aspectos lunar, único.
Visitamos Goreme, outra exótica cidade na Capadocia, um antigo monastério, com inúmeras igrejas e locais onde os cristãos fugindo das forças perseguidoras do Império Romano, iam pregar na região. Se refugiaram nas cavernas, ficavam vivendo nas cavernas, juntos com trogloditas. Foi ali que tivemos as primeiras notícias da fabricação de vinhos. São Paulo pregou nesta localidade onde tem um castelo muito famoso e igrejas nas cavernas, onde também viveu São Basílio.
Neste local vimos formações vulcânicas com aspectos esquisitos e similares à silhuetas conhecidas como nossa senhora segurando um menino, chapéu de napoleão, camelos e outras. Por falta de acesso ao mar, o casamento era a hora de se formar uma poupança para começar a vida segundo os hábitos e costumes antigos, eram armênios, assírios, turcos, ouro oferecido, ao novo casal. Os sultões, govenadores, essas lideranças podiam casar com 4 mulheres e terem um anel de harém, constando de uma pedra que representava a favorita, ouro com 4 pedras, representando amor, paixão, modéstia. amizade. Ofícios eram importantes, tais como artistas, ourives, carpinteiros, por sinal Jesus tinha conhecimentos de carpintaria.
Eunice entrando em Ortahisar – Nevcehir
De saída passamos em Ortahisar, um município da região da Capadócia, pertencente ao distrito de Urgup, na província de Nevcehir, na região administrativa da Anatólia Central. Visitamos uma fábrica de tapetes, com exposição das condições de produção, mercado, enfim um panorama da cadeia produtiva e qualidade do produto muito apreciado.
A noite fomos de ônibus a uma festa na capital da província em Nevçerir, extremamente bela, participativa, muito alegre e envolvente. As músicas e coreografias são de uma alegria contagiante, bastante sensualizadas. O tempo passou rápido nesta festa, regada a comidas locais e vinhos com o pessoal da nossa mesa dançando, para mim significou um ótimo e descontraído momento da viagem. No dia seguinte iniciamos numa visita a Ortahisar, que tem um belo castelo feito na rocha. Procurei saber a base econômica, do que viviam aquelas pessoas que habitavam as cavernas? Criação de pombos, estes produziam material para adubação e plantios onde permitiam uma agricultura descontinua e carne de pombo e apicultura. Interessante. Nos hotéis visitados notei a presença constante do mel de abelha em favos, que tem um gosto especial. Uma delícia. Depois, também exploraram alguns tipos de fibras nas planícies, fechando a cadeira produtiva da indústria de tapetes. Ainda hoje tem gente morando nas cavernas da Capadócia. Passaram-se alguns anos de dificuldades, quando descobriram mais recentemente o filão do turismo, vejam o grande filão que a indústria do turismo proporcionou a aquela gente, a sutileza, a exuberância dos balões. Tudo é motivo para se ganhar dinheiro, desde a venda de souvenirs, restaurantes, hotéis, guias, logística, marketing da poderosa cadeia de valor do mercado de passeios de balões. Tem muito o que se ver, tudo muito alinhado à riqueza cultural da Turquia. Conventos, igreja, hoteis e residencias encravadas naquelas cavernas.
Cesar em Ortahisar- maio de 2024
O filão começou a ser explorado mais recentemente, na década de 90 e com acelerado impacto no mundo todo, vide exemplo do Brasil propagado por uma novela da rede globo. Imaginem o impacto que tudo isto teve nas demandas por conhecer e visitas à Capadócia. Em Ortahisar estivemos numa vila agrícola e no vale do amor, inclusive com sua esculturas naturais conhecidas como Chaminés de Fadas.
No dia 10/05 fomos para Konya, depois de percorrer na conservada estrada 250m km de Capadócia, cidade histórica e coração tradicional, onde as mulheres não se sentem bem em ver turistas mulheres sem o véu, e ponto da antiga rota da seda. Ficamos no Grande hotel de Konya, onde vimos uma das mais belas vistas da viagem. Visitamos o museu Mevlana, nome que significa majestade da religião, é ali o mausoléu de um mestre sufi Jalai Ad-Dim Rumi, um poeta místico e humanista que pregou a humildade, sabedoria e amor. Passamos por um vestígio de civilização Caravançarai de turcos seljúcida. Konia é uma da cidade mística e religiosa, os pontos principais da cidade são mesquitas e museus.
Chegada de Cesar e Eunice em Konya
Importante salientar que na Turquia se transpira história e antiguidades, o conservadorismo secular é muito forte, um caldeirão que contrasta culturas, ocidental, e a tradição e secularização oriental. No seculo XX, nos anos 20, houve uma clara e forte ruptura, um verdadeiro terremoto cultural, com o advento da republica através da abolição do califado dos sultões otomanos. Imaginem o choque, a ruptura que os costumes ocidentais causam naqueles nativos, que tanto precisam de divisas quanto repudiam algum desses valores. Isto para mim explica explosões de ódio que alguns não compreendem neste mundo tão diferente.
Saindo de Konia andamos 400 km para Hierapolis, cidade antiga de 300 anos depois de Cristo, patrimônio mundial da Unesco, no sentido de Pamukkale, formação de cascatas brancas oriundas de sedimentos de calcário. Eunice tirou o tênis e andou pelas águas alcalinas deste lugar. Após o almoço, visita as ruinas da cidade grega de Hierápolis, onde vimos vários locais que as pessoas faziam ginástica, teatro, império grego 200 anos ac., sítios que formam piscinas que descem em cascata numa colina e possuem águas termais, que produz o carbonato de cálcio; e depois de milênios o mármore travertino, num local chamado castelo em algodão. Tem indícios de que aqui a rainha egípcia Cleópatra adorava tomar banho na época em que esteve casada com Marco Antônio. Um fato bastante registrado e muito lamentado foi e ainda é constatado o roubo de túmulos, os incontáveis sítios arqueológicos tiveram seus tesouros violados, desviados para as mãos de ladrões por terem valor, antes que chegassem nas mãos de arqueólogos, e de estudiosos de história e de arte, ocultando e deturpando as verdadeiras conclusões, por serem incompletos. Isso sem falar das mudanças de cena e palcos decorrentes das intempéries climáticas e seus eventos naturais, incêndios, terremotos, ciclones etc.
Cesar em Hierapolis
No dia 11/5 as 19 hs, um sábado, tomamos um vinho, apenas eu e Eunice no Hotel Colossal Termal Spar e paguei 75 reais. Convidei o companheiro de viagem Nelson que preferiu ir dormir mais cedo, já cansado de tanta viagem. Ele agiu muito certo. No dia seguinte, devido ao vinho, amanheci com uma forte dor de cabeça e procurei uma farmácia e não encontrei na correria. Descobri que na Turquia as farmácias não são tão numerosas, uma dificuldade encontra-las, ao contrário daqui no Brasil que tem uma em cada esquina.
Após mais 180 km chegamos a Éfeso e ao sitio arqueológico de Éfeso, segunda maior cidade do império romano. Para mim o ponto alto da viagem a Turquia, visitamos emocionados a casa onde morou a Virgem Maria por 9 anos no alto da colina Koressos, um santuário católico. Nossa Senhora é também muito querida e respeitada pela comunidade mulçumana. Ela morava nesta casa sozinha sempre com o apoio de João, que ficava no pé da colina e lhe prestava o necessário apoio. O nosso guia Cauã disse que a casa era impossível de ser a original de 2000 anos, mas o local teria sido preservado e reconstruído. Neste ambiente sagrado, fiquei surpreso com a infinidade de pedidos de graças a Virgem, por escrito, afixados em um muro, achei também que deveria ter um local com registro de visitantes citando pelo menos uma obrigação de cada um ter a condição de ser um bom cristão, não apenas fazer pedidos pedidos de graças.
Cesar no desfile de modas
Durante a visita a região assistimos a uma exposição, um evento com descrição e apresentação de roupas de couro, um desfile de moda em um centro exportador de couro, em Kuzadasi, em alto estilo e grande impacto, muito requintado, e interessante, tive oportunidade de experimentar uma jaqueta de couro. Além de muito caro, 500 dolares, prefiro um gibão aqui do Ceará mesmo, com um chapéu e tudo de couro. Desisti, mas um amigo de viagem, o Nelson, de porte alto ficou bastante elegante, se engraçou e comprou um, ficando parecido com um autêntico califa.
Casa onde morou Nossa Senhora
A noite me preparei todo para tomar um banho nas águas do mar Egeu, saímos despistando com toalha e sunga por baixo da bermuda para desfaçar, de repente..faltou coragem, achei a água muito fria, diferente aqui do Atlântico.
No dia seguinte saímos para a região de IZMIR a 120 km, em direção a Bursa, antiga capital da Turquia e mais 100 km até Istambul, fechando o cerco. Passamos em Bursa, antiga capital do império Otomano, uma das mais populosas da Turquia. Em Bursa existe a mesquita verde, muito bonita. Na visita a mesquita verde tivemos problemas com uma chuva torrencial, retirar o sapato e enfiar o pé na água é osso, e estávamos sem nenhum agasalho, nem capa e nem chapéu. Um problema para entrar descalço, algumas mulheres não tinham o necessário véu, obtidos com dificuldades. Enquanto em Istambul tem a Mesquita azul em Bursa tem a mesquita verde e o nome deve-se aos azulejos verdes de Isnir que revestem internamente toda a mesquita, por sinal muito bonita.
Eunice em Bursa
O sultão Mehemer Çclebi I fez a mesquita verde em 1421 e está enterrado junto com sua filha no mausoléu que ele mandou construir ao lado. Também tem um monumento ao lado da mesquita que é conhecido como um lava pés.
A viagem para Istambul foi tranquila, ficamos no mesmo hotel do início desta excursão; o retorno para São Paulo e daí para Fortaleza-CE, mais de 16 horas de voo ocorreu dentro da mais alta paz e tranquilidade. Foi uma viagem de sonhos. Valeu, Turquia maravilhosa.
Dia 6/5 começou efetivamente a nossa viagem de turismo. O guia nos entregou uma sacola com um dispositivo eletrônico para que ouvíssemos suas explicações quando distantes dele. Após o café da manhã, as 8, o ônibus nos levou do hotel para o coração histórico de Istambul, visita a Igreja de Hagia Sofia, que em turco significa sagrada sabedoria e foi construída entre 532 e 537 pelo império bizantino, igreja católica ortodoxa e fruto do cisma no oriente em 1054 para ser a catedral de Constantinopla. Em 1453 tornou-se uma mesquita mulçumana e dista 600 metros da Hagia Santa Irene, o nome da minha mãe, a igreja mais antiga do Império Romano do Oriente.
Após a conquista de Istambul em 1453 a igreja foi incluída nos jardins do palácio de Topkapi e não foi convertida em mesquita após sua conquista. Foi residência de sultões otomanos durante 4 séculos, simboliza o poder que Constantinopla alcançou como sede do império romano. Ela foi construída durante o reinado do imperador romano Constantino, o Grande, por volta do início do século IV. Constantino encomendou a construção da igreja Hagia Irene em nome de um santo que viveu naquele período durante os motins de Nika em 532, Hagia Irene foi queimada e destruída, mais tarde, Hagia Irene foi renovada pelo imperador Justiniano, a antiga igreja também sofreu danos por terremotos e teve que ser reformada e reconstruída várias vezes.
Entramos no harém do palácio, do século XVI, alojamento privado dos governantes otomanos, esposas, concubinas, eununcos, filhos do sultão. Destaque na foto abaixo para Eunice nas proximidades da alcova do sultão no palácio de Topkapi.
Cesar e Eunice na Mesquita Azul
O nosso guia é turco, inclusive já morou em São Paulo, tinha grande conhecimento de história, mas falava um espanhol muito rápido, talvez difícil até para quem conhece o idioma, e estava um pouco apressado para ser acompanhado pelos turistas menos atléticos, dos quais me incluo. Tanto a rapidez da expressão falada em espanhol quanto a das pernas nos fez pensar que o grupo iria para o hipódromo (a gente já estava lá), entramos num grupo errado e fomos bater num estacionamento lotado de motos, totalmente perdidos. O hipódromo já tinha sido visitado e a gente procurando com os turcos, que nada entendiam e saiam rápido, como que correndo daqueles fugir dos 3 perdidos, eu, Eunice e Sra. Lucíola, uma excelente companheira de viagem que reside em Portugal e natural do Rio de Janeiro (Copacabana).
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Eunice visitando o Harém do Palácio de Topkapi
Enquanto isso o resto do grupo já estava curtindo o bazar para onde o grupo tinha se dirigido. Então a solução seria acionar a operadora Abreu pelo telefone indicado, demoramos porque eu esperava pela D. Lucíola e vice-versa. Enfim, terminei acionando a operadora vivo, nos atenderam prontamente pedindo uma foto do local onde estávamos perdidos, foquei num comércio bem no meio de uma bifurcação de ruas, loja ROBERTO BRAVO, fácil de achar pelo nome e nosso guia rapidamente nos localizou. Estávamos muito perto do grande bazar, nos encaminhou para lá onde logo fizemos um cambio, compramos umas lembranças, foi uma visita muito rápida, prejudicada pelo tempo perdido. Encontramos uma companheira de grupo contrariada e reclamando da amiga portuguesa que estava perdida com a gente por não ter se comunicado com ela. Era a Nilse, uma senhora muito distinta também do Rio, mas que também mora em Portugal e sempre disposta a ajudar e a contribuir com o grupo, tivemos sorte, grande companheira de viagem, e no momento da reclamação, nos fez perder o foco e num instante, desgarramos do grupo novamente. Agora eram 4 perdidos em Istambul, antiga Constantinopla. Atrasamos mais uma meia hora na saída do grande bazar. Alguma coisa estava errada e eu atribuo a pressa do nosso guia e falta de uma sinalização melhor, por exemplo, usar um sinal, uma bandeirinha. Quando nos encontraram, um dos membros reclamou dizendo, perderam, perderam, não gostei e retruquei que não era culpa nossa, gerando uma certa tensão no grupo. Tomamos o ônibus e fomos para o hotel, com o compromisso de jantarmos sopa de aspargos novamente e estarmos de pé com bagagem arrumada e seguirmos viagem rumo a Ancara. Então conhecemos o importante e estratégico Estreito de Bósforo.
As 10:00 do dia 7/5 estavamos no coração do lado moderno de Istambul, área de Taksim, passamos em frente a poucas igrejas católicas da cidade.
É uma área conhecida por ter uma alegre vida noturna, lojas e restaurantes, parte europeia de Istambul, com muitas marcas consagradas, de grife. Entramos e tomamos um café no Yeniden Bekleriz. Passamos pela avenida Istikial, a mais badalada da cidade.
Alguns minutos depois estávamos no barco para atravessar e conhecer o estreito de Bósforo, não apenas um marco geográfico, mas símbolo da fusão das culturas asiáticas e europeias. Tem 32 km, a largura varia de 750 m a 3,7 km, cada curva é possível ver descobertas, capítulos, fragmentos de história. Casas de madeira, palácios suntuosos com jardins exuberantes e mesquitas imponentes. Foi rota marítima para varias civilizações , gregos, romanos e otomano, além da mitologia onde o príncipe grego Leandro se encontrava com a sacerdotisa Afrodite. Ele liga o mar de Mármara, mar interior que separa o mar Egeu parte asiática, do Mar Negro, única saída para países como Romênia, Bulgária, Ucrania, Georgia e os portos do sul da Rússia. Devido a diferença de densidade entre esses mares, a superfície do estreito flui para o norte e a corrente submarina flui para o sul. Ao longo de suas margens nós vimos o Palácio de Dolmabahce, (de longe, a gente gostaria muito de ter conhecido por dentro), palácio de Beylerbeyi na margem asiática, a mesquita Ortakoy e o museu. O passeio durou 1 hora e 20 minutos. Após o passeio em Bósforo, fomos almoçar, na Turquia se come aves em demasia, o peixe não é saboroso como o nosso. Os pratos combinam sabores do oriente, provamos os doces turcos, kebats e o peixe fresco. As frutas predominantes são uva, o figo, o limão e uma laranjinha pequena e amarela. A maça e a pera não são tão gostosas quanto as nossas, banana vi muito pouco. Eles apreciam frutas secas em geral. Chegamos ao hotel em Ankara, capital da Turquia, as 20 hs e nos instalamos no C. P Ankara hotel resorts, um 5 estrelas de R$ 538 a diária num local estratégico vizinho a um shopping o Ankamall onde Eunice apressadamente, num golpe de sorte, comprou um bom tênis por 3000 liras turcas, cerca de R$ 508. Aprovou esse tênis e o usou a viagem inteira, o que ela vinha usando se desmanchou de tanto a gente andar atrás do guia Cauã. Entre o hotel e o shopping surgiu uma pedinte, foi a única vez na viagem que vi a prática da mendicância. Ressalte-se que aparentemente inexiste na Turquia uma grande disparidade socioeconômica que estamos acostumados a ver por aqui no Brasil.
Cesar em algum lugar no estreito de Bosforo
Fomos dormir cedo para acordar com disposição no dia 8 com as malas prontas. Interessante é a hora da reza, todos ouvem o azan, chamado para as orações 5 vezes por dia, começando na alvorada e seguindo a linha do sol ao longo do dia.
As 9 hs estávamos em Altindag- Genclik Parki no bairro de Cancaya, fomos ao mausoléu de Mustafa Kamal Ataturk, líder da guerra de independência e primeiro presidente da República fundada em outubro de 1923. Ataturk foi além de político um gênio militar e morreu em 1938, foi responsável pela independência e modernização do Estado turco. O local é presença obrigatória de todos os chefes de Estado e de governos que visitam a Turquia.
O Mausoléu de Atatürk foi construído por Emin Onat e Orhan Arda. Eles venceram o concurso para a sua construção, que abrange 75 ha, haviam 49 participantes no certame. Antes da chegada ao mausoléu, você anda em um caminho longo forrado com 24 estatuas de leões, então em seguida você vai encontrar uma grande praça e o mausoléu. No interior, um sarcófago de 40 toneladas. O túmulo do herói e fundador da república é realmente no porão.
Eu e Eunice viajamos pela LATAM até São Paulo e daí em voo
direto de 9 horas para Toronto, maior cidade do Canadá com mais de 5 milhões de
habitantes. Fomos pela Air Canada. Seguimos tanto na ida quanto na volta
naquela primeira fila da classe turística com bom espaço para esticar as canelas.
É uma grande vantagem e reduzido incremento no preço da passagem.
Chegamos cedo em Toronto e após um rápido trâmite burocrático seguimos até os abrigos de ônibus depois da segunda porta pesada de vidro grosso do gigantesco aeroporto. Senti um vento polar e de imediato percebi que não calculei direito a média de temperatura do lugar. Sorte que de última hora ainda em Fortaleza resolvi vasculhar umas roupas pesadas de viagens anteriores, achei uma segunda pele e um casaco surrado que adotei como farda inseparável. A logística de transporte do aeroporto é boa, primeiro as malas, carimbo de entrada no passaporte e finalmente ponto do ônibus 900. O dinheiro deve ser contado em moedas totalizando U$ 2,25 canadenses, os motoristas primam pela cortesia. Contamos com a ajuda de uma colombiana no aeroporto e um cearense que estava no ônibus, o rapaz era de Tauá-CE e me deu algumas dicas de como me deslocar, achei este encontro uma espécie de boas-vindas na chegada ao País. O ônibus nos levou até a estação final do metrô, linha verde Kipling, e 15 estações depois, finalmente Sherbourne. Saindo da estação atravessamos uma rua e seguimos na Bloor Street, mais à frente na esquerda entramos numa galeria e saímos numa rua defronte ao nosso hotel. Eunice ficou com as malas e sacolas na galeria, atravessei a rua estreita com minha mochila e fui apertar o botão de uma campainha, após abrir um portão e subir alguns degraus. O recepcionista gordinho e baixote do hotel saiu fumando com uma surpreendente bermuda naquele frio e me disse que só poderíamos ingressar ali a partir das 15 horas. Outro problema era a falta de um adaptador para carregar o celular, sempre me esqueço disso. Esta desconfortável situação de passar 5 horas ao relento no frio ou na galeria e sem comunicação foi rapidamente revertida, o sujeito num gesto inesperado com a cabeça e apontando para o quarto concordou com a nossa entrada antecipada. Retornei a galeria, dei a boa notícia para a Eunice e imediatamente pegamos as malas. Também comprei o adaptador na portaria do hotel por 5 dolares canadenses, lá os 2 buracos da tomada são mais próximos um do outro. Atravessamos a rua estreita, subimos os degraus e entramos no hotelzinho onde paguei de bom grado os 1.430 dolares canadenses em cash, e nos instalamos no quarto. O hotel tem 40 quartos com banheiros coletivos, mas fizemos reserva antecipada para ficarmos num dos quartos com banheiro privativo e pagamos um pouquinho mais.
Eunice reclamou que não estava preparada para um frio daquela magnitude. Após uma arrumação superficial no quarto deixamos a bagagem e como era cedo fomos andar na St. Bloor até a St. Yonge, por sorte o mais popular cruzamento de Toronto. No caminho passamos pela galeria e conheci o melhor croissant do Canadá, num MacDonald, sempre eu ia lá conferir quando podia. Bom, no cruzamento encontramos um excelente centro comercial. Eunice comprou um casado perfeito, róseo, barato por já ser final de inverno. Enfim, o tempo passa e as coisas vão se arrumando.
Toronto privilegia quem quer visitar os lugares caminhando, pedalando. O transporte motorizado vem em segundo plano. Para nós o metrô é tudo de bom, fantástico, a mobilidade urbana é perfeita. Algumas estações próximas são ligadas por ônibus sanfonados, podem ser distantes do trajeto natural do metrô, mas ligadas pelo conhecido street car. Além do transporte urbano excepcional as pessoas circulam com aquela sensação de segurança, percebi que são solidárias. Enfim, existe infraestrutura, cuidado com o cidadão e educação.
Loo no segundo dia vimos que em frente a cidade existem várias ilhas e escolhemos tomar um barco para conhecer a ilha central de onde poderíamos apreciar toda Toronto e tivemos a visão superior da ilha através de um teleférico.
Cesar e Eunice conhecendo a ilha em frente a Toronto – barco ao fundo
Nossa primeira providencia turística após conhecer a ilha foi comprar um CityPass e então ficamos obrigados a conhecer 5 ícones da cidade. Ele permite a entrada na Casa Loma, zoo, Centro de Ciências, museu e CN Tower. Visitamos a casa Loma, o maior castelo da América do Norte construído por um magnata na esperança de um dia hospedar os reis da Inglaterra, fato que nunca ocorreu. Sir Henry contratou um arquiteto em 1911 e três anos depois tinha 200.000 m² de castelo em 5 acres de terra no topo de uma colina. Ele e a mulher Lady Mary foram obrigados a abandonar o castelo 10 anos após a sua construção por um colapso financeiro. Fomos nesse mesmo dia a estação do metrô a tarde e visitamos o Royal Ontario Museum, um expressivo passeio, tem mais de seis milhões de peças e 40 galerias, com mais de 100 anos. O lugar é um convite para conhecer a história da melhor forma possível, passamos apenas umas 4 horas e óbvio, vimos o superficial. Uma das galerias mais impressionantes é a dos fósseis de dinossauros, o Nível 2 do museu expõe uma série de esqueletos dos maiores dinossauros que existiram na Terra, como os Barosauros. A sala fica próxima da Reed Gallery of the Age of Mammals, que resgata através de fósseis as diversas espécies de mamíferos que viveram na era glacial. Os destaques são o hyracotherium (criatura parecida com um cavalo, do tamanho de um cachorro e que viveu no Hemisfério Norte há 50 milhões de anos) e algumas espécies de mamíferos que viveram em Ontário. Na Gallery of Birds, uma coleção de réplicas de centenas de pássaros, onde é possível tocar nos ovos e observar ninhos de diversas espécies. Perto dali está a Bat Cave, uma cópia perfeita de uma caverna jamaicana, com inúmeros morcegos mecânicos que se movimentam e emitem sons. É um dos lugares prediletos das crianças. A caverna passou por uma renovação em 2010, e tornou-se ainda maior e mais emocionante. Uma outra seção é a Gallery of Hands-On, onde o visitante pode testar diversos equipamentos usados pelos pesquisadores na exploração da biodiversidade. Entre as atrações estão alguns animais empalhados, gavetas cheias de insetos e vitrines com animais que se movem, dando a impressão de serem reais. Na Life in Crisis Gallery, estão diversas réplicas de animais em extinção, como o rinoceronte branco, o panda gigante e a tartaruga de casco de couro. Recentemente, essa seção foi premiada pela Associação de Designers de Interiores de Ontário. No Earth Rangers Studio (uma espécie de estúdio de guarda florestal, aberto de terça-feira a sábado), instrutores dão explicações sobre diversos animais. O Teck Suite of Galleries: Earth’s Treasure é onde estão expostos uma série de minerais, pedras preciosas e alguns tipos de meteoritos de todas as cores e tamanhos raro de meteoritos que contém um dos mais velhos e primitivos materiais orgânicos relacionados com a formação do sistema solar. No Nível 3 do museu encontra-se a Gallery of Africa: Egypt, onde estão situadas as múmias, entre elas a Djedmaatesankh. Existe uma hipótese de que a pessoa tenha morrido há mais de 3 mil anos em decorrência de uma dor de dente. Há também raros objetos, como um busto da rainha Cleópatra, todo feito de granito. Outros destaques no Nível 3 são a Gallery of Rome (com mais de 500 peças que mostram a influência da Roma Antiga em diversas culturas), Gallery of the Middle East (que explora a história do Oriente Médio) e a Gallery of Greece (onde diversos objetos como vasos, moedas e joias revelam a riqueza e criatividade histórica da Grécia).
No dia seguinte fomos conhecer a CN Tower Toronto com 553 metros de altura, é possível ter uma vista completa da cidade e visitamos 3 de seus 4 níveis de observações. Saímos do nosso hotel, fomos até a estação Union e chegamos facilmente na torre. Almoçamos no restaurante circulando em 360º com uma vista magnífica. Em um de seus níveis, destaca-se o mundialmente famoso Piso de Vidro, onde, olhando para baixo, é possível ter a dimensão da altura do observatório e para quem tem medo de altura tem-se aquela sensação de queda iminente. A viagem no elevador panorâmico é uma atração à parte. A torre estava lotada de turistas. É um passeio imperdível em Toronto. Neste dia também formos ao aquário de Toronto, conheço muitos aquários mundo afora, mas o de Toronto se destacou na minha memória. Tive inclusive a sorte de em 1998, conhecer o aquário de Lisboa quando da inauguração do Parque das Nações, quando Portugal decidiu recuperar uma área degradada de sua capital e inaugurar o marcante evento. O de Toronto se destaca por dois motivo: i) Tem uma esteira que a partir de certa etapa vai levando o visitante por toda a sua extensão do aquário, simples, cômoda e belíssima maneira de apresentar, ii) Outra surpresa, vejo em cima de forma surpreendente um enorme tubarão passando sobre nossas cabeças, vejo uma tartaruga, e de lado uma infinidade de criaturas aquáticas dos mais variados tamanhos, cores e formatos. Ideal era se fosse um túnel no miolo do aquário permitindo se visualizar os indivíduos nadando sob os nossos pés dando a mesma impressão de transparência vista na torre comentada antes. O zoológico foi para nós a grande decepção do CityPass, talvez a inconveniência do horário, vimos apenas umas hienas, uns patos e cavalos.
Estávamos cansados, nosso cotidiano era mais ou menos o seguinte: acordávamos tarde da manhã, preparávamos o café e a cozinha estava quase sempre disponível, as nossas coisas eram identificadas e acondicionadas na geladeira ou num armário coletivo. Eunice encontrou-se com uma senhora da África do Sul e trocaram algumas palavras. Tinha um russo, ucraniano, sei lá o quê, incapaz de dar um cumprimento, mesmo um sutil ou leve sorriso. Ele estava sempre tomando uma bebida num copo com inscrições naquele alfabeto cirílico. Tinha um semblante sofrido e era extremamente arredio.
Saíamos para os passeios tarde da manhã, passávamos o dia fora explorando a cidade considerada pela revista Economist uma das cinco melhores do mundo para se morar. Chegávamos às 20 horas e ainda estava sol forte, claro, e era o momento de ir fazer compras num supermercado na galeria (bananas, laranjas, pão leite, café, água, queijo, salada de frutas, presunto, ovos), enfim, o básico para um café da manhã e jantar leve. O almoço era nas saídas, onde a gente se encontrava sempre tinha um local. Cada vez que eu ia para o supermercado tinha o cuidado de levar as sacolas de plástico no bolso, depois de 2 vezes pagando pela bendita sacola aprendi a lição. Quase todos os dias a gente chegava e via o russo com um violão na entrada do hotel fumando e totalmente à vontade numa temperatura típica de um frizer. As vezes aquele recepcionista estava fumando e mexendo no celular com sua improvável bermuda num frio de rachar.
Circulando de norte a sul, leste e oeste na cidade obtivemos a informação da monumental cadeia de lojas num subterrâneo na estação de metrô Dundas, tínhamos passado no local, mas não sabíamos desta peculiaridade. Nesse dia, fomos a uma escola de idiomas e entender como seria a estratégia e principalmente os custos para a Andrea eventualmente estudar inglês em Toronto. Aparentemente achei as condições deveras interessantes e viáveis. À noite, estava no hotel, pronto para ir as compras na nossa galeria então parei para conversar um pouco com o recepcionista, ele me apresentou para 2 irmãs brasileiras, uma delas mais idosa com interesse em vir morar no Canadá, ela tinha trabalhado em empresa aérea e me surpreendeu com o bom nível de seu inglês. A outra estava com um calo terrível de tanto andar no Toronto Eaton Centre. Conversamos rapidamente e entendi o que ela queria: dividir um quarto com uma pessoa que pudesse compartilhar os custos fixos de manutenção em Toronto por uns tempos, assim, mais uma vez me lembrei de Andrea. Retornei ao nosso apartamento e pedi a Eunice pronta para dormir que conversasse mais detalhadamente sobre isto com essas senhoras enquanto eu iria fazer as minha tradicionais compras. Seria mais uma possibilidade de apoiarmos Andrea, ressalte-se que ela recentemente manteve contato via e-mail com Andrea tratando desse assunto. Bom, no decorrer da conversa perguntei a moça o que ela achava de morar em Quebéc, ela me disse que só tinha velho, ela preferia Toronto, então percebi que ela queria e o que queria obter no Canadá.
No dia seguinte fomos caminhando para Dundas, cerca de meia
hora do hotel, conhecendo vários locais e um me chamou atenção. Era uma fila com
cerca de 20 pessoas num local com a placa Tokio Smoke, fiquei curioso mas segui
em frente.
Fiquei realmente impressionado com o tamanho do Eaton Center o principal centro. Achamos o local muito bom e passamos a frequenta-lo quase diariamente. Um problema, as opções dos restaurantes são poucas fora as da culinária chinesa. Uma pernambucana me disse que realmente sentia este problema, tinha casado com um árabe e teria tido problemas intestinais em decorrência dos temperos.
Nesta praça da alimentação presenciei a situação de um rapaz jovem que estava dormindo nos bancos e fui testemunha de como são feitas a abordagem do recinto de pessoas inconvenientes que existem em quase todo local público. O rapaz foi chamado por uma segurança com tapinhas delicadas no rosto e não acordou, assim, com o apoio de mais 3 colegas foi colocado numa maca, contido por 2 cintos e retirado do local com bastante suavidade. Outra ocorrência que vi, foi um sujeito abrir sua mochila e retirar o produto do roubo em frente a dois policiais com aparência oriental, sendo conduzido discretamente para um local reservado. Foram as únicas ocorrências um pouco mais graves que eu vi em Toronto, embora aqui e acolá, principalmente no metrô, sempre surgiam pessoas com aspecto suspeito. No entanto, imagino que as condições climáticas, sociais, favorecem muitos casos de solidão e tristeza, e isto traduz-se em grande sofrimento humano. Acho que nos trópicos este problema é mais atenuado pela presença marcante da luz solar.
Para não confundir, existe uma outra estação Dundas, a West,
reduto de portugueses e brasileiros e onde almoçamos uma comida típica,
utilizamos o ônibus em integração com o metrô. Valeu a viagem.
Através do nosso hotel em articulação com uma empresa de turismo fomos conhecer as cataratas do Niágara, fronteira com os EUA, 2 horas em viagem de ônibus confortável. A princípio fomos a um vinhedo para conhecer e experimentar um vinho canadense, depois seguimos até Niagara Fall e ficamos diante de várias atrações, Skilon Mirante, passeio de barco e mais umas 10 opções. Preferimos simplesmente andar pelo calçadão, fotografando e filmando aquele espetáculo, recebendo no rosto agradáveis respingos da cachoeira. Neste dia almoçamos num restaurante defronte as cataratas. O melhor da viagem estava no retorno. Conhecemos Niagara on the Lake, e o ônibus seguiu ir pela Niagara Parkway. Por que? Por vários motivos. O principal é a bela paisagem dessa estrada que vai contornando o Rio Niagara. Além disso, observamos muitas vinícolas no caminho. A cidade é encantadora, calma e sua beleza é marcante. Foi um dia muito incrível, tranquilo e extremamente agradável para visitar o Niagara.
Cesar ouvindo os sons do Niagara
No retorno à Toronto tivemos mais uma surpresa na estação UNION. Compramos a passagem para andar de trem pelo Canada. Por 370 dolares canadenses compramos 2 passagens de trem, Toronto para Sarnia, retornando até Montreal passando na volta por Toronto novamente. Essa viagem de 15 horas era uma incógnita principalmente para Eunice, mas foi surpreendentemente tranquila e alegre. Saímos da estação Union em Toronto às 17 horas do 12º dia e chegamos as 22 horas em Sarnia, uma pequena cidade de 70 mil habitantes fronteiriça com os EUA e tendo como base econômica a indústria de petróleo e gás.
Eunice e seu sobrinho em Sarnia – maio de 2019
Lá mora Bruno, sobrinho de Eunice, com sua mulher e filha, ele trabalha com eletrônica, sua mulher com preservação ambiental e sua filha estuda num bom colégio e gosta de futebol. São muito agradáveis e hospitaleiros. Quando chegamos estavam nos esperando na estação do trem e após 5 minutos já estavámos hospedados em sua confortável casa. De manhã, era domingo 12 de maio, fomos tomar o café da manhã numa marina, local belíssimo. Depois eles gentilmente nos mostraram a pequena e bela cidade, destacando-se área de preservação, reservas e uma enorme planta de geração de energia solar. A noite Bruno preparou uma costela assada de altíssima qualidade e todos nós botamos as conversas em dia em torno de 2 garrafas de um bom vinho canadense. No dia seguinte era uma segunda feira, eu e Eunice fomos dar uma volta nas proximidades e a noite fomos a uma pizzaria e a atendente perguntou se a gente queria costela. Ficamos tão impressionados com o churrasco do dia anterior que concordamos, mas o que a moça nos trouxe foram uma stellas. Rimos da situação, aproveitamos e enchemos a cara de cervejas. No dia seguinte retornamos e isto nos deixou saudades da família, da acolhida, e da verdadeira e autêntica alegria que eles tiveram em nos receber em Sarnia.
Saímos de Sarnia numa terça, 14 de maio, Bruno e sua família nos deixou saudades e boas lembranças, foram muito alegres os dias naquela simpática cidade canadense. No caminho de volta vimos uma mensagem de sequestro de uma menina, a notícia é divulgada no celular de todos que moram na região. Na viagem de 10 horas num trem confortável vi da janela panorâmica vilarejos, campos cultivados, campos nativos, florestas, lagos. Fomos pela Via Rail, com restaurante e bar, venda de lanches, a viagem foi muito boa e nostálgica porque na minha infância anualmente a gente ia de trem nas férias de julho de Fortaleza para a casa da minha avó Mariinha no Quixeramobim, coração do Ceará, que desativou o transporte ferroviário.
Minha única dúvida era sobre a baldeação em Toronto, na estação de Union, como identificar o trem que nos levaria a Montreal naquele labirinto? Eles são muito organizados, foi tudo tranquilo, mudamos rapidamente de trem, infelizmente ficamos num lugar desconfortável sem aquela vista panorâmica das viagens anteriores.
Eunice no Jardim Botânico de Montreal
Montreal é um dos mais importantes polos (econômico e científico) da América do Norte, destacando-se a robótica. A população de Montreal é muito educada, com destaque para o seu ensino de alta qualidade. Chegamos cansados de 10 horas dentro de um trem e fomos direto ao hotel quando nos deparamos com uma figura, daquelas inesquecíveis, o recepcionista do hotel EPIC Montreal parece com aqueles personagens de desenho animado, nariz afilado, educadíssimo, num francês caricato, falava pausadamente, sempre com um sorriso permanente nos lábios. O Hotel fica bem no centro da cidade, elegantíssimo, restaurantes animados e sempre lotados, típicos de um ambiente próspero, dinâmico, ali não existe vestígio de crise.
De noite vivenciamos uma refeição no hotel, foi uma novela termos acesso ao prato principal do jantar, todo aquele ritual, para mim não passa de frescura e sempre me causa bastante dor de cabeça e no bolso. Contra a minha natureza questionei os garçons, fora o jantar tinha pago 2 taxas, achei que a gorjeta estava incluída. Com muita demora, cara feia e má vontade o garçom me disse que faltava a gorjeta. Então caiu a ficha, as duas taxas significam na verdade, o imposto devido ao estado do Quebec e o outro é o imposto do país, Canadá, o que achei muito justo. Isto me explicam as carrancas dos garçons que enfrentei em toda a viagem, eu não sabia disso e daí em diante não passei mais por esses dissabores. Foi a única vez que eu não vi sorriso no rosto do nosso recepcionista que a tudo atentamente acompanhava. Ensaiamos dar uma volta nas proximidades do hotel EPIK cercado de belos restaurantes e cafés. Desistimos devido ao frio intenso. Fomos dormir cedo no apartamento contíguo a portaria, meio esquisito. Uma coisa é certa: Recomendo muitíssimo o hotel EPIK em Montreal, sem medo de errar.
Cesar e Eunice na catedral de São José em Montreal
De manhã, após uma noite e café reconfortantes fomos estudar o traçado do metrô de Montreal. Neste transporte visitamos os principais pontos da cidade, estádio olímpico, Museu, jardim botânico, infelizmente não tinham mais aquelas figuras extraordinárias de animais construídos com plantas aparadas, trabalhadas, disseram que esta atração só ocorria em ocasiões especiais. Não entendi isto muito bem, grande falha do plano turístico. No dia seguinte, de metrô visitamos a bela Catedral de Saint Joseph´s Oratory, foi um dia de oração, emoção, superação e gratidão por estarmos ali com relativa saúde. Subimos os inúmeros degraus até chegarmos, numa igreja, sobre outra igreja no topo de um morro, como isto pode acontecer após uma viagem tão longa, fiquei até impressionado com o nosso pique. E vejam, não sou lá muito religioso, mas como cearense e recordar que o meu pai e familiares são todos devotos de São José, consegui força e disposição para dedicar o dia ao santo padroeiro do Ceará. A igreja e monumentos são de uma beleza impressionante e de uma contagiante energia. Lembro-me que na chegada do metrô, uma jovem senhora nos indicou o melhor caminho para aquela igreja, e de longe ficava sinalizando, apontando o melhor itinerário. Isso ficou na minha lembrança simbolizando uma espécie de fada.
Na volta almoçamos num restaurante simples, enquanto Eunice
esperava nossa refeição fui num mercadinho comprar algumas coisas para
lancharmos no hotel, inclusive frutas e água. Nesta noite assistimos a um
belíssimo espetáculo de sons e luzes na catedral de Notre Dame, cerca de 15
minutos caminhando do nosso confortável hotel EPIK. Infelizmente, ao
retornarmos, Eunice viu um inseto desconhecido que se escondeu embaixo do colchão,
e passou essa noite preocupada. Eu não vi absolutamente nada e dormi a noite
toda.
No outro dia acordamos tarde e fomos ao meio dia para uma
estação de metrô onde encontramos o ônibus que nos levaria para a cidade de
Quebéc.
Fiquei curioso para saber por que no Quebéc o idioma oficial é o francês. O Canadá foi colonizado por duas grandes potencias, a Inglaterra e a França. Até 1759 os franceses predominavam nesta província, mas após a batalha das planícies de Abraham, passaram ao domínio Inglês. Mais recentemente houve a reconstrução de raízes culturais de forma pacífica e o Canadá é hoje um País aberto, plural e com boa qualidade de vida. Fiquei encantado com Quebéc, nosso hotel ficava próximo ao portão da cidade antiga, extremamente elegante, com prédios e arquitetura de muito estilo e charme. Viemos de Montreal de ônibus, uma viagem tranquila. Da rodoviária ao hotel pegamos um táxi e o motorista não quis me dar o troco direito, dei 20 dolares canadenses e ele me veio com umas poucas moedas. Não quis me aborrecer com o sujeito, estava meio cansado, mas como causa má impressão ao turista atitudes como esta. O Hôtel Manoir de l´Esplanade está situado num local de altíssimo luxo, como afirmei, bem na porta da cidade velha, perto do prédio do parlamento de Quebéc.
Cesar e Eunice no portão de Quebéc
Fomos recebidos delicadamente por uma senhorinha que nos forneceu a chave do apartamento e foi logo dando as dicas de uma praça central nas proximidades, com um funiculaire que nos levava a pontos turísticos importantes no porto. Após ingressar e acondicionar malas e pertences, enviei um zap para uma professora da Universidade de Quebéc, que sempre troca algumas ideias comigo, filha de um amigo que trabalha aqui na CEASA de Fortaleza. Ela me disse que o pai dela estava passando uns dias em Quebéc. Essa professora é cearense, foi muito gentil conosco, passou no hotel após as 20 horas, certamente cansada de um dia de trabalho e com visitas importantes em casa, se dispôs a dar uma volta panorâmica e nos mostrar os pontos principais da bela Quebéc. Seguimos na rua Alée, eixo central da cidade, após um arco, O Grande Alée Barrée que nos leva a 2 gigantescos shoppings contíguos. Ela nos mostrou a universidade onde trabalhava, descrevendo as várias unidades e após nos indicar e descrever outros pontos relevantes nos deixou numa rua, uma espécie de polo gastronômico. Foi ali que degustamos a melhor costeleta de porco da viagem ao Canadá, diferente dos temperos chineses. Ressalte-se que nada contra a comida chinesa, mas, todo dia ninguém aguenta.
Eunice num Polo gastronômico de Quebéc.
No dia seguinte passeamos na bela praça do parlamento próxima do nosso hotel, com destaque para uma estátua de Gandhi. Talvez este monumento sinalize algo relacionado ao domínio britânico no passado. Em Quebéc conhecemos os lugares apenas caminhando ou através do UBER, muito prático. No dia seguinte fomos no sentido oposto ao roteiro da professora cearense e visitamos uma outra praça onde fica o belo hotel Fairmont Le Cháteau Frontenac, centro de turismo, Funiculaire, Musée du Port e outras atrações, ali, tudo pertinho do nosso hotel. Aproveitamos e adquirimos o direito a um passeio naqueles ônibus panorâmicos com fone de ouvido e descrição em português de todos os principais pontos turísticos de destaque da cidade de Quebec.
Cesar e a estátua de Ghandi-Quebéc
Paramos para um lanche num centro comercial importante e tivemos de esperar uns 40 minutos pelo próximo ônibus. Nesta oportunidade presenciamos a chegada de inúmeras caravanas com crianças que visitavam um museu naquele centro, Eunice me alertou da pratica pedagógica da frequência de crianças à museus, tudo muito organizado e de forma disciplinada. Após o city tour em Quebec, almoço e rápido descanso no hotel seguimos para a visita rápida à cidade baixa no funiculaire, por sinal numa tarde chuvosa e fria. Retornando ao nosso hotel, não deixávamos de apreciar como é bela aquela cidade, quanto encantadora e cheia de arte é Quebéc, de longe a mais bela, pelo menos aos meus olhos, da visitadas no Canadá. Dava gosto caminhar e deixar o tempo passar pausadamente observando a beleza em cada esquina, em cada prédio, árvore e na tranquilidade e expressão de surpresa e contentamento no rosto das pessoas.
No último dia visitamos aqueles enormes Shoppings contíguos,
e aí a gente se perde. Todos iguais, aquelas marcas famosas, o visual homogêneo
da globalização, tanto faz se localizar em Paris, Ancara, ou aqui no RioMar em
Fortaleza, ou na própria e verdadeira Quebéc. Numa cidade como aquela, acho que
se perde nosso caro e precioso tempo andando em Shopping.
Seguimos a noite para o aeroporto de Quebéc onde pegamos o
avião de retorno para Toronto, reconhecendo o caminho de volta já percorrido do
nosso hotel, ocupando o mesmo quarto que havíamos deixado dias atrás. Nós
deixamos 2 malas guardadas no hotel como uma cortesia da gerencia e tivemos
acesso as mesmas através de uma senha.
No dia de volta ao Brasil fomos para o Distillery District, era feriado em Toronto, uma segunda feira antes do dia 25 de maio em honra ao aniversário da rainha Vitória do Reino Unido. A data é simultaneamente DIA DA RAINHA, um FERIADO, e a data início do verão do País. Aquele frio intenso tinha ido embora. Antes de sairmos conhecemos uma moça da Paraíba que estava há 2 anos no Canadá, morando em Montreal e iria dar um passeio com sua amiga francesa neste feriado. Ela se mostrou bastante simpática e amigável com a gente.
Seguimos para o District, a mais preservada arquitetura
vitoriana da América do Norte, onde antes era uma fabrica de rum e Bourbon, hoje
um dos mais vibrantes endereços de Toronto. Tem restaurantes, cervejarias,
galerias, estúdios de arte, cafés, teatros, escritórios, festivais de musica e
fabrica artesanal de chocolate. Almoçamos com vinho e voltamos para o nosso
hotel de UBER. Tivemos tempo de reencontrar a moça da Paraíba que nos contou alguns
dissabores que tinha passado em casas de família em Montreal, mas que agora estava
bem no Canadá. Tivemos uma despedida afetuosa com a moça. Fomos para o
aeroporto e a estação não tinha escada rolante, as pessoas em várias oportunidades,
ajudaram e não deixaram Eunice carregar sua mala. Saímos em voo direto para São
Paulo. Finalmente, as 17 horas do dia 22 de maio chegamos à Fortaleza. Foi tudo
uma grande experiência.
Eunice se despediu do casal de médicos que ia para o congresso de neurologia em Chicago. Sempre que surgia um problema durante a viagem ela dizia: que diferença. Partimos do Panamá às 10 horas do dia 22 de julho de 2018, duas horas depois estávamos em Havana. Na chegada houve um pequeno burburinho e mistura de filas de imigrantes e nativos, revisão de bagagem em busca de armas, checagem de dados. O aeroporto estava lotado. Enfim, entramos oficialmente na ilha.
Um jovem representando a operadora nos recepcionou às 15 horas e nos encaminhou para uma van e nosso motorista de meia idade. No percurso ao hotel começou informando sobre a maravilha que iríamos conhecer em Varadero, fez alguns elogios espontâneos ao socialismo e comentou sobre políticos brasileiros que estiveram 3 ou 4 dias antes em Cuba num encontro relacionado ao fórum de São Paulo. No caminho, o primeiro susto. Valdeci perguntou sobre o motivo de uma gigantesca fila de pessoas sob um sol escaldante, de rachar os miolos e nosso loquaz motorista falou de forma rápida como se quisesse mudar de assunto: gelado. Insisti na pergunta e ele respondeu em inglês meio embaraçado, ice cream. Descobrimos que era uma fila para comprar sorvetes e ficamos admirados. Chegando ao hotel, o homem nos pediu um chocolate.
Nosso hotel era o NH Capri La Habana e ficava a 2 ou 3 quadras da praça da revolucion, Calle 21, entre N e O, 10.400, Havana – Cuba. O hotel é bom e o serviço de qualidade. Entramos no apartamento e logo surgiu um probleminha. Eu queria deixar nossos passaportes e valores no cofre e andar com a cópia, parece até que isso é errado, andar com copia, mas tenho o maior ciúme do meu passaporte. O cofre estava quebrado, liguei para a recepção e o enviado não resolveu o problema. Resumindo: tiveram que mudar a porta do cofre com o apoio de 3 funcionários, após mais ou menos horas de peleja. Eu e Eunice ficamos no quarto com uma vista parcial de Havana, prestei atenção numa garota tomando de modo compenetrado um banho prolongado em pequena imitação de piscina que quase não cabia na sua área de serviço no prédio ao lado. Na portaria do hotel fiz a minha primeira operação de câmbio: troquei US$ 100 canadenses por 70 CUC, Valdeci trocou uns dólares americanos pagando uma taxa de 10%. Depois fiz uma troca com uns poucos Euros e aí, segue uma dica: A melhor vantagem para o turista é cambiar a moeda canadense. Mas, em Cuba tem outra moeda, o CUP, utilizada pelos cubanos, 24 vezes mais desvalorizada que o CUC. Uma pegadinha é você pagar uma despesa em CUC e receber o troco em CUP, são notas parecidas. Vi comentários sobre isso, mas, conosco tal fato não aconteceu em Cuba. Achei os funcionários do hotel bastante educados e simpáticos, tinha uma pessoa que trabalhava lá que me respondia algumas perguntas meio indiscretas, sob as vista de um indisfarçado espião na entrada principal, como por exemplo, qual a renda que prevalecia em Cuba?. Ela me disse que era 25 a 30 dolares, mas tinham pessoas que ganhavam cerca de 12 dolares mensais do Estado, uma única vez num dia certo. Para sobreviver tinham que vender e revender roupas e sapatos, outros inventavam as mais diversas maneiras de ganhar algum. Perguntei sobre liberdade e ela me disse que isto era complicado de responder, como quem diz – não me comprometa. Após o conserto do cofre desci para o térreo, sai do hotel e fui tentar comprar pão para o lanche. Na outra quadra encontrei uma padaria extremamente modesta e com prateleiras vazias, comprei um pacote de pão barato, em torno de meio CUC. Não tinha manteiga para vender, mas tinha água.
Eu estava com 70 CUC no bolso e no começo da noite fomos jantar e depois conhecer os arredores. Do lado de fora do hotel, um cubano de terno, exageradamente solícito e amigável nos induziu a entrar num restaurante em frente, talvez uma forma de conseguir alguns trocados complementares ao seu seguro e parco rendimento oficial. Negociava também táxis. Gosto de ser bem recebido, mas detesto exageros. Devo reconhecer a excelente qualidade do serviço e do jantar. A cozinha cubana é muito requintada, um prato individual custava em julho de 2018 entre 12 e 15 CUC e a conta vem sempre sem nenhum adicional, não tem gorjetas como por aqui. Engraçado, quase tudo tem gorgetas, menos restaurantes. Achei Havana muito bonita, as ruas são bucólicas, limpas, pelo menos aonde a gente estava, pouco transito em relação ao que estamos acostumados e os carros da década de 40 , 50 e 60, tem um certo romantismo nostálgico, embora aqui e ali existam carros modernos no ponto de táxi em frente ao nosso hotel. Fomos dormir bem cansados.
No outro dia fomos fazer um city tour e me chamou logo atenção o aspecto dos prédios à beira mar, extraordinariamente belos, quase todos com aspecto em reconstrução, daquelas reformas que nunca acabam. Alguns desses edifícios estavam parcialmente ocupados. Passamos em frente a embaixada americana que se encontrava fechada, talvez devido a algum entrevero com o Trump. O nosso guia só falava em aspectos históricos que ocorreram em Cuba antes da revolução. Passamos no Centro e locais históricos de Havana, no bar onde o americano Hemingwey, premio Nobel de literatura batia o ponto. Floridita escolheu morar em Cuba, convivia tomando seus tragos e onde escrevia seus romances. O bar estava lotado e passei apenas em frente, dei por visto. Mas, ninguém, ninguém me respondeu satisfatoriamente sobre aquelas mansões e edifícios extraordinárias na beira mar, apenas soube mais tarde que as aparências de reforma eram na verdade o efeito devastador da maresia que atacava as ferragens das construções. Achei um desperdício, aquilo tem fantástico potencial turístico, gerar renda e emprego. Tiramos umas fotos na praça da revolução e perguntei a um cubano que me deixou entrar no seu carrão antigo, muito bonito, qual o valor daquele carro, ele me disse que valia 50 mil dólares, achei um exagero. No centro da Praça da Revolução, onde o Fidel fazia seus prolongados discursos, fica o memorial José Martí com uma torre de 109 metros de altura. A praça recebeu um milhão de pessoas por ocasião de visita do Papa João Paulo II em Cuba em 1998.
Cesar na Praça da Revolução em Havana.
No porto de Cuba destaca-se o Castelo de São Salvador de la Punta, enquanto do outro lado da Baia se encontra o Castelo dos Três Reis Mágicos do Morro, ao que se alcança via um túnel por baixo do mar. O castelo é uma das maiores fortificações espanholas no Caribe. Construído entre 1589 e 1610 para defender o porto dos ataques dos corsários e piratas mostra uma obra emblemática de engenharia daquela época. Almoçamos neste local e tive noticia do canhonaço, decidi visitar e conhecer sua história. Depois do almoço ouvi de um cubano 2 coisas importantes. 1. Cuba sentiu fortemente a derrocada da União Soviética e o desmantelamento da comunidade dos Países Socialistas que lhes davam guarida e tinha as costas largas para apoiar o governo de Fidel em trocas vantajosas para seu País, e 2. Ele me disse, em todos os Países, o sujeito ganha um salário e se puder, ganha por fora alguma propina secundariamente. Em Cuba a propina é a principal fonte de renda, o salário é secundário, alguns chegam a ganhar 12 dolares mensais pagos regia e pontualmente por mês pelo governo. Isto não significa que sejam atividades ilícitas, o sujeito cria, inventa mil e uma formas de ganhar um dinheirinho por fora para completar o seu magro orçamento, um jeitinho de viver. Além disso, o governo subsidia alimentação, saúde, educação, sem direito a internet…
De noite fomos a um restaurante sugerido pelo Valdeci obtido de uma pesquisa na Internet no vértice de uma esquina triangular o Chacon 162 na Habana Vieja, 10. Fomos de táxi, local simples e agradabilíssimo, comemos uma lagosta muito bem preparada, uma gostosa limonada, e preços justos. No retorno ficamos um pouco preocupados, algo receosos, tínhamos que andar uns 3 ou 4 quarteirões para pegar o táxi de volta ao hotel, trajeto repleto de pequenos grupos de jovens conversando, brincando, lugar de aspecto evitado por aqui, só frequenta quem mora e conhece o ambiente. O dono do bar nos disse que ali era tranquilo e seguro. Pagamos a conta sem gorjeta, fizemos o trajeto e pegamos um táxi no final da rua, tudo na perfeita ordem. O preço dos táxis eram sempre combinados antes, 10 CUC´s. Percorremos a prolongação da Vieja Habana, no famoso Malecón, uma avenida costeira de sete quilômetros desde o Castillo de la Punta até o rio Almendares. O Malecon é para os cubanos um lugar de encontro e, especialmente, um lugar para namorar. Gostei de ver este trecho. Achei Havana segura, embora com muita gente perambulando pela rua.
Jantar no Chacon 162 em Havana
No outro dia fomos a um acanhado shopping com poucas mercadorias e vendedores desanimados, e desinteressados, talvez por não participação em lucros. Nesta época havia um debate no País sobre alteração na constituição sobre alguma abertura e mais liberdade de mercado, e muitos viam com desconfiança estas mudanças que aumentaria a fiscalização e o controle do governo. Depois passamos por uma espécie de feira de poucas variedades, nesse ambiente sentimos uma atmosfera maior de competição. Retornando ao hotel, encontramos Valdeci e Mirian e fomos de táxi a um laboratório produtor de produtos especiais e alguns tipos de hidratantes. Fomos cercados por vendedores que alardeavam a qualidade de seus produtos clandestinos, seriam melhores em qualidade e procedência do que os da instituição oficial. O órgão do governo exigia um dispêndio de 150 CUC com médicos especialistas para receitarem os produtos. Conseguimos comprar uma pequena amostra sem precisar deste receituário. Em seguida retornamos para um breve descanso no hotel.
Negociamos um taxista por 10 CUC nos levar a um restaurante frequentado exclusivamente por cubanos, os chamados Paladares, onde os preços são menores, baratos, come-se por 1 a 4 CUP, pode-se pagar em CUP, a moeda dos cubanos. O motorista saiu perguntando onde ficava o el BURRITO, indicavam um canto, outro, pela direita, esquerda, e depois de muito rodar não achamos o dito restaurante. Voltamos para o hotel e pagamos 10 CUC para evitar confusão e bastante chateados com o motorista que nos pareceu trapaceiro. Presumo que ele sabia que o el burrito não estava funcionando. Nosso destino era quase sempre comer em frente ao nosso hotel, não tivemos a chance de conhecer um verdadeiro Paladar em Havana.
Cesar e Eunice na fortaleza de San Carlos
No ultimo dia na cidade, no final da tarde fomos a fortaleza de San Carlos conhecer um pouco sua história. O canhonaço das 9 é uma cerimônia militar que data do século XVIII e ainda se mantém atualmente. Traduz-se literalmente num disparo de canhão originado desde a Bateria de Cerimônia da Fortaleza de San Carlos de la Cabaña. Atualmente, os encarregados principais de levar a cabo esta tradição histórica-militar são jovens recrutados do Serviço Militar, os quais vestidos com fardas daquela época mostram a centenas de turistas nacionais e estrangeiros que se reúnem todas as noites para assistir ao disparo do canhão. Após a invasão da Fortaleza de los Tres Reyes Magos del Morroe a consequente tomada de Havana pelos Ingleses, no ano de 1762, o rei Carlos III ordenou a construção de uma grande fortaleza que pudesse proteger, a até então, vulnerável Colina del Morro. A construção começou em 1763 e terminou em 1774. Foram utilizados os mais avançados conceitos da engenharia militar do século XVIII e a maior fortaleza construída pelos espanhóis nas Américas. O estrondo è ensurdecedor, o zumbido no meu ouvido perdurou por alguns minutos.