PANAMÁ E SEU CANAL

Fomos no voo direto e inaugural da COPA AIRLINES de Fortaleza até a cidade do Panamá por quase 07 horas com direito a brindes com champanhe. Eunice encontrou no avião um casal de médicos que ia para um congresso em Chicago. Saímos nos primeiros minutos do dia 19 de julho de 2018 e chegamos às 05 (hora local), fuso horário 02 horas menos. O voo foi tranquilo e sem nenhuma turbulência, serviço de bordo razoável. A grande exigência na entrada no Panamá, além do passaporte, é o comprovante da vacina contra febre amarela. A operadora nos deixou 2 horas no aeroporto aguardando a chegada do funcionário panamenho, após cutucarmos pelo whatsapp para Fortaleza apressar nosso translado até o hotel. Quiseram dificultar nosso check-in, aquela conversa de entrar às 15 horas. Tudo terminou dando certo, bom sempre ter os vouchers à mão. Finalmente tomamos um bom café da manhã e seguimos para um breve descanso. Nos hospedamos no Las Americas Goldem Tower, com muito boa vontade podemos dizer que é um hotel 5 estrelas, conforme registro no contrato com a Casablanca Turismo. O prédio é antigo e as acomodações, incluindo a portaria, começam no 4º andar, as instalações são boas, internet funciona bem, o hotel fica no centro da cidade, Balboa Avenue and 53 street, Marbella- 587. Antes do meio dia acordamos e tivemos uma bela e agradável vista da cidade, destacando-se um prédio esquisito na nossa frente em formato de parafuso, nosso hotel ficava num entroncamento urbano defronte a um grande viaduto, próximo de um centro comercial.

Um prédio ícone do Panamá

Saímos, eu, Eunice, Valdeci e Miriam, grandes amigos e companheiros de viagens, para um passeio de reconhecimento. Duas quadras atrás do hotel entramos num shopping de certo modo acanhado e modesto. Nada me chamou a atenção, exceto umas garotas fazendo massagens com o cotovelo nas costas dum cidadão por US$30 a hora. Senti logo as dificuldades. Sem exagero, nosso outlet da Caucaia tem produtos de melhor qualidade e com preços 50% menores. Digo sem medo de errar, com o dólar como está, Fortaleza é uma cidade extremamente vantajosa para compras. A economia panamenha é totalmente dolarizada, é proibitivo comprar qualquer coisa fora do essencial com o que ganhamos em real. No Panamá o perfume da marca azarro custa em média U$ 77, livre de impostos, vi por menos de U$ 50 em Fortaleza com o mesmo volume.  Logo nesse dia o Valdeci fez algumas compras de vestuários.

Errar uma vez é humano, mas cair no mesmo erro é imperdoável. Por acomodação, caí novamente na armadilha de um agente de turismo do nosso hotel sobre um jantar de gala com um show folclórico com direito a transporte, por US$ 170,00 o casal. A exigência e o requinte seriam incomparáveis. Fomos animados para este evento as 20:00 hs. Um engodo, uma arapuca, pessoas entrando de bermuda, tudo não valia a metade do que pagamos para o jantar e ver um pouco do folclore local. Não é possível que eu caia mais nessa. O recomendável é o turista procurar um restaurante típico, jantar, pagar o couvert artístico, se quiser, e conhecer vários ambientes da vida noturna. Tivemos sorte desta bela apresentação no outro dia em um local escolhido ao acaso.

Belo folclore panamenho

Nunca tive sorte de comprar pacotes dentro do meu hotel. Felizmente utilizamos de forma altamente satisfatória o serviço de UBER durante nossa estadia na cidade do Panamá por iniciativa de Eunice. Uma das características da comida dessa região da América Central é o uso parcimonioso do sal, aliás, um aspecto muito positivo, sal não faz bem a ninguém, principalmente pessoas mais idosas. No segundo dia no Panamá fomos conhecer o museu do famoso canal de 80 km, que une os oceanos Atlântico ao Pacífico. Poucos sabem que o Senado da Colômbia no começo do século XX rejeitou um tratado com os Estados Unidos para fazer o canal. Então os norte-americanos instigaram o Panamá a declarar-se independente, evitando uma reação colombiana com sua poderosa marinha. Os EUA precisavam desesperadamente da obra para evitar seus navios darem uma volta de 21 mil km em torno do continente para integrar o oeste na corrida do ouro com o leste americano. A obra foi iniciada em 1903 e inaugurada em 1914, com enorme dispêndio material, financeiro e sacrifício de vidas humanas com o apoio dos EUA. A gigantesca obra facilitou o comércio marítimo internacional —, e sua construção foi iniciada pelos franceses em 1881 que desistiram. Mas, em 1904, os EUA reassumiram os trabalhos, concluído em 1914. Os norte-americanos dividiram o Panamá em 2, e queriam o controle perpétuo de uma faixa de 10 km de largura por 80 km de comprimento de canal. Desde então houve uma constante e crescente onda nacionalista contra a presença norte-americana no Panamá e isto piorou com a vitória de Fidel Castro em Cuba em 1959. O ápice de tensão ocorreu no começo de 1964 com o problema das bandeiras, e confronto com morte de 20 estudantes panamenhos e 4 americanos com centenas de feridos. Em 1973 o conselho de segurança da ONU apoiou a necessidade de rever os termos de acordo sobre o canal, com o voto contrário dos EUA. Os americanos reagiram firmemente a possibilidade de devolução, principalmente o republicano Reagan dizendo que compraram, pagaram e construíram o canal, então iriam mantê-lo eternamente como fizeram com o Alasca e com a Lousiana. Mas Jimmy Carter, tinha posição mais branda e elegeu-se em 1977. O canal perdera alguma importância para os EUA, que abria internamente rodovias e ferrovias e industrializava o Oeste. A matriz de transporte mudara muito. Isto facilitou o tratado Torrijos-Carter, a agencia autônoma do governo panamenho passou a administrar o canal, a partir de dezembro de 1999. Por lá já passaram mais de 1 milhão de navios. Não foi uma transferência fácil e serena, mas valeu a pena. Cada navio paga em média para atravessar US$ 100 mil, de acordo com a carga. O máximo já pago de pedágio por uma embarcação foi US$ 409 mil.  Carter, sofreu muitas críticas internas, baseadas na alegação de que ele não havia assegurado os interesses americanos, talvez tenha sido um dos fatores de sua não reeleição. De 2007 a 2016 o canal foi expandido, duplicando sua capacidade.

A Cidade do Panamá tem diversos passeios para serem feitos, uma bela autopista iniciada com o nome Calzada Amador ligando as ilhas Naos, Perico e Flamenco. O material utilizado na sua construção foi extraído do próprio canal recentemente duplicado. Visitamos pela manhã o canal expandido e de noite a ilha de Flamenco.

Canal do Panamá – Calzada Amador

Lugar bem estruturado para passeio com a família. Muitos restaurantes no local e algumas sorveterias. Fizemos todos os passeios turísticos na cidade do Panamá utilizando os serviços de Uber, barato e eficiente. Os motoristas faziam questão de citar a construtora Odebrecht brasileira que fez a obra com um sorriso irônico, insinuando algo ilícito nas negociações para a construção da gigantesca obra.  Senti que nossa imagem nos negócios anda um pouco arranhada. O que eu posso afirmar é sobre a extrema qualidade e beleza arquitetônica da obra de urbanização da ilha do Flamenco, possibilitando um passeio realmente inesquecível, simplesmente imperdível. Valdeci tinha razão quando falava entusiasmado deste lugar, ele e D. Mirian estiveram por lá anteriormente.