Chegamos no final de uma tarde de agosto de 2013 em São Petersburgo (Leningrado), que um dia foi sede do império russo. Esta cidade serviu de fonte de inspiração para grandes artistas e tem uma história rica e dramática.

com o sanfoneiro Kaledin, cabra da peste russo e seu cavalo, ao fundo.
Ficamos no hotel Radisson Sonya, R$ 206,00 a diária com belo salão e musica ao vivo. Fomos para o apartamento, descansamos um pouco numa cama com lençóis e travesseiros confortaveis. Jantamos no restaurante do hotel. Depois da refeição me aproximei e conversei um pouco com o sanfoneiro, ele chamava-se Kaledim. Quando eu cantarolei asa branca de Luiz Gonzaga ele imediatamente reconheceu e tocou alguns acordes, mas não executou a música inteira.

As 6:30 horas da manhã tomamos café e Kaledin já estava no batente, ele me disse que o expediente era puxado. Conversei um pouquinho com ele na base da mímica. Reclamou que ganha pouco com a sanfona. Dei a entender ao sanfoneiro russo que no Brasil a profissão de instrumentista musical também não era muito bem remunerada.
Às 7 da manhã do dia 21 de agosto de 2013 estávamos todos no ônibus com uma nova guia, uma gordinha loura chamada Olga, que respondeu de forma áspera para Eunice quando esta perguntou se o tempo estava frio; – Isso é problema de cada um, respondeu rude e secamente. Afinal a gente vem do nordeste brasileiro e ouve histórias terríveis sobre o clima da Rússia, principalmente de São Petersburgo cujos invernos costumam ser rigorosíssimos. Acho que ela não era obrigada a ficar sorrindo, mas, ser sensível e cortês com os turistas.

Às 8 horas estávamos em frente da espetacular igreja de Cristo do Sangue Derramado, uma maravilha de cores e formas. Fica próxima da Neviskiy Prospekt. Também é chamada igreja da ressurreição, foi construída em 1881, nunca foi usada para casamentos, missas ou funerais, ela foi construída apenas em honra ao Czar e como memorial de Alexandre 2º no local em que foi assassinado. Apenas alguns sermões foram proferidos nela antes da revolução. Entramos no seu interior e achei a igreja mais bela por fora. Ficamos impressionados com a beleza externa dessa igreja e cercanias.

Em seguida fomos visitar a fortaleza de Pedro e Paulo, de 1703, ano da fundação da cidade de São Petersburgo. Em novembro de 1918 foi nessa fortaleza que Trótski comandou uma reunião com soldados que apoiaram a revolução comunista no congresso dos Sovietes naquele ano e tomada do poder pelos bolcheviques. Durante a construção centenas de escravos e prisioneiros de guerra suecos morreram nos perigosos pântanos que a circundam. A Catedral de São Pedro e São Paulo, além de marco inicial da cidade é o local onde estão enterrados os Czares desde Pedro e Nicolau II e sua família.

Depois fomos conhecer o rio NEVA, que quando congela no inverno forma um imenso e estranho passeio de gelo, andamos num dos barcos pequenos que passam pelas pontes rebaixadas dos canais que lembram Veneza, construídos para evitar enchentes do rio. Funcionam como uma espécie de drenos. Percorremos o canal Fontanka, afluente do Neva de 6,7 km, 70 m de largura e profundidade de 3,5 m, que corta o centro pelo Almirantado. O Moyka é um rio também afluente do Neva e tem 4,7 km e nele tem 15 pontes.
A temperatura em agosto estava parecida com a de Fortaleza -CE; 28ºC, de dia (noites sempre frias), saímos para o Rio Neva propriamente dito onde vislumbramos toda a linda cidade de São Petersburgo, Visualizamos ao sul o Golfo da Finlândia, um braço do mar Báltico, de longe víamos o Palácio de Peterhof, que além do centro histórico de São Pertersbugo fazem parte do Patrimônio histórico da Unesco. De longe vimos o museu Hermitage. Conhecemos a 25 km de distancia da cidade o palácio de Catarina, criado em 1710, por Catarina mulher de Pedro, o Grande, o primeiro e mais celebrado da dinastia dos Romanov. É um Palácio que foi residência de verão dos Czares.

Depois fomos visitar o Hermitage, uma dos maiores museus de arte do mundo, tem 3 milhões de peças de todas as épocas da história russa, o núcleo inicial foi uma coleção de 225 pinturas flamengas e alemãs pertencente em 1764 a Catarina II. O Museu está distribuído em 10 prédios ao longo do Neva e o Palácio de inverno foi a residência oficial dos Czares. O museu é um ótimo recurso cultural para quem pretende iniciar e se aprofundar em história da arte russa pois o seu magnífico e rico acervo contempla referências de todas as principais épocas e fases da vida russa e europeia e isto é um ponto de partida magistral para pesquisadores.

É tudo gigantesco, inclusive o calor muito forte naquela tarde de agosto de 2013. Decidi com a Eunice sair do museu e atravessar a sua enorme praça em frente chegando ate um quiosque do outro lado onde tomamos uma coca cola para amenizar o calor. Estava quase no final da visita, Achei estranho neste enorme museu não ter nenhum vendedor ambulante.

Sentimos até um certo desconforto pela travessia daquela imensa praça vazia. Eu também estava muito preocupado com esta desgarrada do grupo, voltamos rapidamente, encontrei o Valdeci preocupado, sentiram falta da gente e isto é muito grave numa excursão, atrapalha todo mundo do grupo. Os horários são obrigatoriamente cronometrados, sequenciados e muito rígidos. A guia e alguns companheiros nos olharam com ares de censura e uma senhora me disse que eu iria ganhar uma salva de palmas, um bolo de presente e uma garrafa de vodca se tivesse atrasado mais alguns minutos.

Eu lhe respondi que entendia a sua preocupação, eu tinha muita experiência de viagem de grupo e sabia dos eventuais dissabores causados a todos por alguém que se atrasa. Mas seria muito bem vindo este presente de grego, melhor do que o enorme calor e mal estar decorrente que eu e a Eunice estávamos sentindo, e nos obrigaram a buscar uma coca-cola tão longe. Depois fomos ao Palácio de Catarina, um dos melhores exemplos de barroco russo. Ele também é famoso por abrigar a mundialmente famosa sala Âmbar, foi chamada de “Oitava Maravilha do Mundo”. Foi esta parte da cidade que primeiro teve energia elétrica na Europa.
O dia 22 de agosto foi totalmente livre. Fomos conhecer o metrô próximo do nosso hotel, as estações são bonitas, embora nem tanto quanto às de Moscou. Utilizamos, os 4 cearenses, a estratégia de seguir 3 estações adiante, descemos do trem, e subimos as escadarias até uma rua desconhecida e exploramos as imediações, suas lojas, seus parques e retornamos ao metrô. Após apreciarmos as gravuras da estação retornamos as 3 estações e estávamos novamente próximos ao hotel. Chegamos na hora do almoço e pedi um borscht num restaurante chamado domik. Para falar a verdade achei caro e não gostei, era tipo uma sopa meio azeda com creme de leite. Os demais comeram o tradicional salmão.
Acordamos cedo no dia seguinte com a bagagem organizada durante a noite, tomamos o generoso café da manhã e ficamos no hotel aguardando o carro que nos levaria até o aeroporto. Na portaria tinha um senhor com semblante severo, grave, fixo, nem piscava e nem olhava de lado, com uma placa entre as mãos de avisos em cirílico. Ninguém sabia do que se tratava e nem prestava atenção. Eu estava um pouco desconfiado, mas não tomei conhecimento que era um chamado para o nosso grupo se dirigir ao transporte descaracterizado em frente ao hotel até que a japonesinha da USP falou algo para o russo e nos avisou que se tratava do nosso translado para o aeroporto. É realmente difícil a comunicação por ali.