A viagem de Havana até Varadero durou 2 horas numa perua VAN para cobrir os 150 km de boa estrada, com um motorista que falava muito pouco. Eu esperava ver um amplo canavial na estrada, mas, vi muitas matas secundárias, a flora de Cuba tem diversidade, vi descampado, áreas reflorestadas, flamboyants, o solo aparentemente cansado, apenas 1/4 do território cubano é agricultável e a economia agraria depende muito da monocultura canavieira, com pouco potencial de geração de renda e emprego. A patrulha averiguou a documentação do carro uma vez. Passamos pela cidade de Matanza, e logo chegamos ao FRAMISSIMA Memories Varadero beach. Eu quis conhecer o lugar num relance, a princípio gostei muito de ver uma garrafa de whisky pela metade numa mesa repleta de bebidas, tudo grátis, depois veio a realidade de uma fila longa e desorganizada no balcão do lobby. Após o demorado cadastro e recebimento das chaves seguimos num veículo adaptado para nos transportar juntamente com a bagagem.

Conhecido como carrito, nos deixaram com a pesada bagagem (uma ajuda parcial do motorista), num bloco, atrás de outro bloco um pouco distante do trajeto natural do carrito. O tempo gasto a pé entre o lobby e o nosso apartamento era em media 15 minutos. A estrutura do resort é muito boa, com alguns problemas de manutenção, quase não vi tecnologia nos tratos culturais com a vegetação, homens capinando com terçados e facões, muitos coqueiros e arvores retorcidas decorrentes de furacões passados.
O primeiro problema. A internet, mesmo paga era disponível apenas no Lobby, portanto tínhamos que sair do quarto, andar os 15 minutos para nos conectar com o mundo. Após um rápido descanso, fomos até um deck para sentir e perscrutar o ambiente, pedir um sanduiche com refrigerante tudo free, e daí passar o tempo para o jantar num restaurante próximo ao Lobby. Não gostei muito da qualidade do sanduba, mas a fome era grande. A gente queria programar 2 jantares, fora do restaurante popular, e não havia disponibilidades. Coisa boa sempre é escassa. Eunice decidiu fazer uma reclamação oficial sobre a qualidade do serviço para nossa operadora aqui em Fortaleza, de vários contratempos ocorridos, inclusive pouca oferta de água e papel higiênico nos apartamentos. Achamos preferível comunicar no outro dia, mas ela decidiu fazer a reclamação logo no Lobby com internet, urgente, para tentarem resolver os problemas mais cedo, deixar para depois tardaria ainda mais a solução. Mas, anoitecia e faltou energia elétrica. No retorno pagamos o maior mico da viagem, tivemos imensa dificuldade para achar os nossos apartamentos, o nosso bloco ficava fora da sequencia e os números não eram ordenados. Pensei, os 4 tateando no escuro igual a breu aqui em Cuba sendo guiados pela lanterna do meu celular que apontava para uma numeração desordenada. Valdeci dizia: Cesar, fecha esse celular porque se descarregar vamos achar nosso bloco apenas pela manhã com a luz do sol. Enfim, chegamos ao bloco 38 após uma longa e tenebrosa busca.

De manhã, pegamos o carrito e fomos tomar café no refeitório, comida abundante de razoável qualidade. Dali, fomos conhecer a praia, reclamei da demora do carrito. Um casal cubano acompanhado de sue filha concordou comigo quando eu disse que poderia ter mais transporte, uns 5 carritos adicionais. A mulher do cara pulou fora da conversa e ficamos conversando com o pai e filha. Eunice perguntou algumas coisas e ele nos disse que recebia cupons para comida e água (falam em kg de água), educação era grátis, saúde também, mas as escolas não tinham internet, a garota saiu da apatia e enfatizou, e o cubano reclamava dessa situação. Fomos para a praia e confesso que foi um dos melhores banhos de mar que tomei na vida, águas mornas e transparentes, com ondinhas suaves e olhem que nasci na beira mar. Cuba é muito privilegiada neste aspecto turístico, a praia apinhada de gente de várias nacionalidades, principalmente russas. Na hora do banho conversei com uma cubana simpática que se dizia de alto astral, sobre aquelas casas e prédios tão bonitos e estragados da orla de Havana. Ela me disse que aquilo tudo pertencia aos americanos ricos que vinham se divertir em Cuba e que foram enxotados pela revolução. A conversa parou por aí. Fomos para o almoço da mesma forma, muita quantidade e razoável qualidade. As comidas mais nobres eram disputadas e tinham fila. O calor do final de julho, insuportável, nos obrigava a procurar um local com ventilador de teto. Vento quente e local abafado. Neste sufoco descobri uma situação que me pareceu injusta. Uma sala no refeitório com ar condicionado, pessoal muito satisfeito, uma acachapante discriminação. Fiquei atento, percebi que tinham pulseiras diferentes da minha, eram um grupo turístico de elite. Aliás, notei depois que até na praia tinha esta separação, e jurei nunca mais fazer estas economias de palitos. Não vale a pena. Olhei atentamente o Carrito na hora do rush, do almoço, demoravam e a gente não gostava de enfrentar o sol do meio dia. Portanto, tínhamos de esperar, sem internet. Voltamos para o nosso alojamento e depois de um breve descanso seguimos para o LOBBY no carrito, a estas alturas a operadora de Fortaleza tinha comunicado aos cubanos sobre as nossas queixas. Num instante conseguiram nos encaixar em 2 jantares refinados, um de cozinha italiana e outro, de cozinha japonesa. No jantar a italiana a garçonete cubana colocou os pratos no banco lateral, pois, a mesa ainda estava cheia de taças de vinho e chegara a hora dela ir embora. No jantar japonês, no outro dia, um cozinheiro fez o maior malabarismo e preparou as comidas na frente da gente, tinha uma família francesa na nossa mesa.
Alguns desacertos na logística: No banheiro, para tomar um simples banho, tínhamos que escalar um batente muito alto, o problema maior mesmo era a demora do carrito. Para evitar idas e vindas do LOBBY Eunice não quis voltar ao apartamento, passou o dia por lá. Aproveitei umas horas vendo os canais de televisão disponíveis, com duas noticias de destaque. O aniversário de nascimento do falecido ex-presidente da Venezuela, muitas vezes citado no canal estatal como comandante supremo Hugo Chaves e a reunião dos BRIC’s na África do Sul. Destaque, o presidente brasileiro foi muito pouco citado como membro desta reunião de cúpula. Vi num dos canais entrevistas conduzidas pelo ex-presidente do Equador. Para as crianças, desenhos sobre a história de exploradores espanhóis e a caricatura de um doutor sabe-tudo falando de biodiversidade e domínio sobre a Amazônia.
No final das tardes passamos momentos agradáveis no LOBBY, onde aproveitávamos para nos atualizar pela internet e ouvir músicas belíssimas muito bem executadas num piano de cauda por uma jovem cubana. Em 2 balcões próximos éramos servidos por generosos copos de um delicioso suco de limão. Eu e Eunice retornávamos para o apartamento no carrito. De noite íamos a um anfiteatro próximo e da plateia assistíamos peças de teatro infantil, algumas atrações de cantos e imitações de cantores famosos.

Enfim, o dia de retorno para o Brasil. Deixamos para arrumar as malas na madrugada do dia seguinte e ficamos novamente à luz de velas. Romântico. Melhor dizendo, com a luz mais uma vez redentora do aplicativo lanterna do celular, por sinal, prestes a descarregar. Imagine juntar em volumes uma porção de pequenos objetos espalhados pelo apartamento nestas condições. Após este sufoco, enfim, colocamos as malas, sacos, e trouxas mal acondicionadas pela pressa e viajamos 2 horas para o aeroporto com muita gente pedindo carona no caminho e chegando ao destino gastei os últimos Cuc´s com um café precário. Ainda tentei comprar um jornal cubano “o granma”, mas o setor de informações do aeroporto me disse que não tinha em canto nenhum, o rapaz ficou até admirado com o meu pedido. Foi isso.