Marcamos a viagem da Rússia para agosto. O voo da TAP saiu de Fortaleza direto para Lisboa, de onde viajamos para Moscou (Mockba) e chegamos 5 horas depois. A Rússia é o maior País do mundo com 17 milhões de Km2 e uma população de 150 milhões de habitantes, com 7 fusos horários.
Desembarcamos no aeroporto de Demodedovo as 6:24 horas da manhã de um dia de agosto de 2013. As 7:30 horas pegamos um táxi e tive uma noção inicial de como as coisas funcionam por lá. Seguimos o guia que falou pouco com a gente. O motorista manteve-se fechado, calado. Dirigia em altíssima velocidade, subia calçadas para cortar outros carros. Fora isso, minha primeira impressão de Moscou foi boa.
Chegando ao hotel na rua Lesnaya no centro de Moscou, gostei logo do ambiente, grande hall, musica ao vivo de sanfona… Entramos as 10:30 horas e me deparei com o primeiro problema; perdi a chave do cadeado da mala, justo a que tinha minhas roupas. Depois de muito trabalho na portaria os russos conseguiram resolver. Quando soube do ocorrido o Valdeci me deu uma boa dica: misturar as roupas do casal, evita que um fique com todas as suas roupas e o outro sem.
As 16 horas ficamos vendo umas vitrines de lojas e chegamos num quiosque onde cada um comeu um crepe recheado com suco de cereja. Preços módicos. Jantamos as 19:30 horas no Zuev Workers Club, próximo ao nosso hotel, um salmão grelhado. Após jantar as 20:30 horas fomos os 4 para o teatro Bolshoi, assistimos ao show Lago do Cisne de Tchaikovsky com uma acústica perfeita. Eu, que não sou muito fã de balé e ópera quis repetir esse show em São Petersburgo, não pude porque estava lotado.
No outro dia, na hora do café de manhã eu decidi pegar as escadas, para ir para o terceiro andar onde serviam a refeição, o elevador do hotel demorava muito. As portas no terceiro andar estavam trancadas por dentro, não abriam para o saguão do terceiro andar. Fui ao quarto, ao quinto, todas trancadas, fui até o vigésimo andar pelas escadas. Eu batia, mas de tão grossas e pesadas ninguém ouvia nada, tudo em vão e pior, muito escuro. Até que enfim tive a ideia de descer ao térreo e a porta abriu para a rua, UFA…, que sufoco, vi a luz do dia.
Nosso grupo era formado por umas 30 pessoas, todas latino-americanas. Os brasileiros eram representados por nós 4 e uma professora nissei da USP de São Paulo. A nossa guia era uma russa com os olhos tristes e profundamente azuis.
Cesar e Eunice em frente a Igreja de S. Basílio em Moscou 2013
As 8 horas da manhã saímos do hotel e eu ainda estava abalado com aquele sufoco nas escadarias. Fomos conhecer a igreja de São Basílio, ícone. Tem aquelas torres aceboladas e de rara beleza típica, um cartão postal da Rússia. Bela tanto por dentro quanto por fora . São bulbos multicoloridos e labirintos de capelas ligadas por um corredor ornamentado de arabescos. Depois fomos visitar a catedral do Cristo Salvador e o Kremlin, sede do governo russo, com as torres da Anunciação, Assunção e São Miguel Arcanjo e ao lado, portentosos canhões. Visitamos o mausoléu de Lenin. Vimos à troca de guarda no tumulo do soldado desconhecido, numa marcha cadenciada e matematicamente sincronizada.
Fomos ao shopping anexo, o GUN, achei os artigos caros. Comprei uma boneca Marusca, bibelôs, pratos de paredes e algumas lembranças.
O metrô de Moscou foi planejado por Stálin com a intenção de proteger a população na 2ª grande guerra mundial. As estações tem profundidade de até 90 m e são verdadeiras obras de arte. São DESLUMBRANTES, com grandes arcadas, lustres luxuosos e decoração imponente. Colunas de mármore de todas as cores, esculpidas no formato de flores e plantas, com detalhes em bronze, tudo brilhando e muito limpo. Tetos de pé direito altíssimos e totalmente decorados, com adornos, pinturas, mosaicos, afrescos e desenhos em relevo.
As informações disponíveis nos vagões são todas em russo, assim como os mapas próximos às portas. Para não se perder é bom sempre ter em mente, antes do embarque, a quantidade de estações a serem percorridas até o seu destino final. Para sair do Metrô sigam as placa anunciando Выход.
Construído com a ajuda de milhares de trabalhadores, também de voluntários, algumas estações são imperdíveis, tais como, Mayakovskaya, Komsomolskaya e Kropotkinskaya.
Existiram fortes controvérsias e debates internos desde o inicio da imponente obra sobre a tecnologia a ser empregada, se esta seria superficial ou aprofundada, considerando os custos, o tipo de solo de Moscou, sua geologia, o momento político, histórico, operacional, afinal era uma obra extremamente complexa. A construção do metrô de Moscou foi acelerada graças à entrada de engenheiros de minas, mineiros, outros engenheiros e técnicos, operários e a decisão política do partido, da construção do socialismo, pela vitória do qual se batiam incessantemente.
Cesar no metrô de Moscou, 2013
O metrô salvou muita gente da morte certa pela sua profundidade como abrigo subterrâneo, e essa sua função ajudou a ampliar o amor da população pela obra. Além de útil essa obra tinha de ser bela.
Ficamos com todas estas impressões e retornando ao hotel fomos a um quiosque próximo comprar umas frutas típicas, principalmente morangos e amoras. A moça que nos atendeu era bem educada e solícita.
Deixamos nossas compras guardadas e saímos para almoçar nas proximidades, sem antes passarmos num mercadinho próximo para comprar água mineral, alguns biscoitos e vinho. Achei caro o caviar nesse mercadinho, mais de 200 reais uma porção de 200 gramas, tinha vontade de experimentar, mas não deu. O saco plástico para acondicionar as compras, de graça no Brasil, na Rússia é bastante caro. Levamos as coisas para o quarto do hotel e dessa vez saímos e entramos à direita na rua do hotel e chegamos a uma avenida larga. No outro lado tinha um restaurante famoso, mas desistimos, como poderia atravessar aquilo se não havia uma passarela para pedestres? Fomos almoçar no mesmo local do dia anterior, e isto não era nada bom, mas a fome falou mais alto. No outro dia fomos a Kolomenskoe, às 8:30 horas estávamos na espetacular mansão de madeira que dista 18 km de Moscou. Era o Palácio Real de Alexei Mikhailovich, um conjunto histórico-arquitetônico. Fomos a casa dos czares como Pedro I, familiares e seus ancestrais.
Eunice na Residencia dos czares em Kolomenskoe, Russia 2013
Este palácio de madeira tem 850 anos e localiza-se numa reserva de 390 hectares, digamos, o seu quintal. Presenciamos a cerimônia de um casamento típico russo com homens e mulheres de trajes, músicas e danças típicas, escolheram um do nosso grupo turístico para ser o noivo com toda aquela indumentária, pompa e liturgia da celebração, inclusive os comes e bebes que por sinal, vieram muito a calhar.
Retornamos para o hotel às 10:30 horas, tomamos banho e fomos almoçar, de novo para a direita ate aquela rua larga e intransponível do dia anterior.
As cervejas que tomamos por lá, pensem numa cerveja boa!!!
Foi quando cruzamos com um colega hóspede do nosso hotel, e ele nos avisou que deveríamos atravessar um túnel, por sinal muito movimentado. Interessante, que a entrada da rua é escondida, numa curvinha totalmente oculta. Ficamos felizes e fomos almoçar num restaurante típico russo. Tomamos umas cervejas OXOTAS, comi um strogonoff muito bom. Ficamos alegres com essas cervejas e com o preço por unidade de 36 rublos.
A excursão saiu do hotel Holliday Inn em Moscou às 8:00 horas de 19 de agosto para São Petersburgo. Foram 630 km percorridos no ônibus da empresa de turismo. Chegamos à cidade de Klin com 80 mil habitantes e distando 85 km de Moscou, às 9:45 horas da manhã. Demora devido ao trânsito em Moscou. Passamos em frente ao museu- casa onde nasceu Tchaikovsky, era uma sexta-feira, não abre quarta e quinta. Uma imensa área verde na frente.
Prof. Valdeci e D. Mirian na frente da casa de Tchaikovsky em Klin-Russia, 2013.
Seguimos viagem e chegamos a um Monastério ortodoxo russo fundado pelo patriarca Nikon em 1653. Ele fica próximo ao lago Valday em Valdaysky Rayon de Novgorod Oblast. Local de grande força espiritual, a gente sente, quadros e afrescos belíssimos, de grande valor artístico.
Eram 15 horas e vimos 2 monges saírem de dentro da igreja e cantarem com um coro harmonioso, hinos religiosos do cristianismo ortodoxo russo que nos deixaram maravilhados. Foi um belo momento de reflexão naquela região coberta por floresta e lagos. Tinha uns letreiros bonitos que para nós eram inteligíveis. Valdeci filmou muito bem o local e sempre mandava umas observações suas e da Miriam para a Mariana, neta deles. Ele fala na gravação o que eu dissera antes; Imagino como deve sofrer um analfabeto, pois é isto que eu sinto aqui na Rússia, pior ainda, mouco e mudo e só posso comer apontando a comida no cardápio, se não tiver uma fotografia corremos o risco de ficar com fome.
A viagem após estes momentos de meditação e paz continuou no nosso ônibus muito calma, todos ouvindo lindas musicas russas, belas paisagens naturais, lagos, rios e animais, até chegarmos a noitinha na cidade de Veliky Novgorod, situada a 155 km a sudeste de São Petersburgo. É a sede da KGB, berço e semente do que se transformou a União Soviética e depois a Rússia, maior Pais do mundo com mais de 17 milhões de km quadrados. Chegamos ao Park Inn Velliky Novgorod e pagamos U$ 82,00 por uma diária. O jantar incluído na excursão teve um cardápio na base de peixes e pato, batatas e outros acompanhamentos por mim desconhecidos, muito vinho e vodca, música ambiente em um salão ricamente decorado. O banquete foi exclusivo para o nosso grupo e tivemos oportunidade de conversar e compartilhar com as pessoas nossas impressões sobre a viagem e nossos Países. Nos recolhemos, acordamos cedo e tomamos o café da manhã, no fundo eu estava preocupado era com nossos passaportes que ficaram retidos na portaria.
Visitamos a bela catedral de Santa Sofia, Eunice tirou uma foto sugestiva com uma estátua de uma mulher sentada numa praça com um canteiro circular limitada por uma ponte sobre o rio Volga. Depois fomos a uma área rural onde conhecemos uma casa típica de um camponês russo, entrei na casa e observei as condições em que uma família rural vive ali. Segundo nos foi relatado pela guia, a própria temperatura dos corpos humanos serviria para amenizar o frio glacial dos membros da família, muitos graus abaixo de zero nos quase sempre rigorosos e longos invernos russos. Fazia calor neste dia que estávamos lá, meados de agosto de 2013, mas imagino a intensidade destes frios no inverno.
Casa típica de um camponês russo
Quis tirar fotos com uma camponesa que estava na casinha, mas ela disse que não concordava, ou, parece que se sentia envergonhada ou era desconfiança mesmo. Dei umas voltas nas proximidades da casa e quis registrar o formato das cercas em Novgorod. Elas me chamaram atenção, feita com varas distribuídas de forma inclinada, diferentes de tudo que eu já tinha visto, a configuração deve ter uma razão lógica que eu não consegui perceber.
Depois adentramos na casa de um camponês típico, um agricultor familiar russo e pude ver o espaço apertado que eles vivem, os utensílios domésticos, com destaque para o berço protegido e pendurado numa corda. Deve ser para facilitar o embalo e fazer o nenê dormir.
Após estas visitas e observações nos reunimos num convidativo e aconchegante restaurante onde almoçamos cordeiro com espinafre, pão, batata e sucos de cerejas, ô pessoal pra gostar de cereja. Tomate lá é saboreado como fruta, com sobremesa de doces muito diferentes e por mim estranhos.
Interior da casa do camponês. Vejam o berço no detalhe.
Neste almoço, assistimos e participamos de um show musical russo extremamente animado e do qual tenho uma boa recordação de qualidade da percussão. Alguns membros do nosso grupo tiveram ampla interação com os russos que cantavam, dançavam e tocavam. Eles ofereceram um instrumento musical de percussão interessante, infelizmente eu não quis trazer mais uma bugiganga, como eu costumo classificar estas coisas, tralhas. Falha nossa, eu deveria ter trazido este instrumento de Novgorod para Fortaleza para enriquecer nosso regional nas festas do Cesar Jr.
No final da viagem perguntei a nossa guia IRINA, por que a gente quase não vê ninguém na estrada, em pleno verão quente, as casas me pareciam abandonadas. IRINA me respondeu; Os russos vieram quase todos para a cidade, a urbanização é intensa nestes últimos anos, é muito frio no inverno e difícil dispor de tanta madeira para se aquecer no inverno. Essa foi literalmente sua explicação para a urbanização. Mas, as causas devem ser muito mais profundas… Aceitem ou não, essa foi a explicação da IRINA e eu dei a conversa por encerrada.
Chegamos no final de uma tarde de agosto de 2013 em São Petersburgo (Leningrado), que um dia foi sede do império russo. Esta cidade serviu de fonte de inspiração para grandes artistas e tem uma história rica e dramática.
Cesar no hall do hotel em São Petersburgo com o sanfoneiro Kaledin, cabra da peste russo e seu cavalo, ao fundo.
Ficamos no hotel Radisson Sonya, R$ 206,00 a diária com belo salão e musica ao vivo. Fomos para o apartamento, descansamos um pouco numa cama com lençóis e travesseiros confortaveis. Jantamos no restaurante do hotel. Depois da refeição me aproximei e conversei um pouco com o sanfoneiro, ele chamava-se Kaledim. Quando eu cantarolei asa branca de Luiz Gonzaga ele imediatamente reconheceu e tocou alguns acordes, mas não executou a música inteira.
O nosso roteiro na Rússia
As 6:30 horas da manhã tomamos café e Kaledin já estava no batente, ele me disse que o expediente era puxado. Conversei um pouquinho com ele na base da mímica. Reclamou que ganha pouco com a sanfona. Dei a entender ao sanfoneiro russo que no Brasil a profissão de instrumentista musical também não era muito bem remunerada.
Às 7 da manhã do dia 21 de agosto de 2013 estávamos todos no ônibus com uma nova guia, uma gordinha loura chamada Olga, que respondeu de forma áspera para Eunice quando esta perguntou se o tempo estava frio; – Isso é problema de cada um, respondeu rude e secamente. Afinal a gente vem do nordeste brasileiro e ouve histórias terríveis sobre o clima da Rússia, principalmente de São Petersburgo cujos invernos costumam ser rigorosíssimos. Acho que ela não era obrigada a ficar sorrindo, mas, ser sensível e cortês com os turistas.
Eunice em frente a igreja do Cristo do Sangue derramado em S. Petersburgo 2013.
Às 8 horas estávamos em frente da espetacular igreja de Cristo do Sangue Derramado, uma maravilha de cores e formas. Fica próxima da Neviskiy Prospekt. Também é chamada igreja da ressurreição, foi construída em 1881, nunca foi usada para casamentos, missas ou funerais, ela foi construída apenas em honra ao Czar e como memorial de Alexandre 2º no local em que foi assassinado. Apenas alguns sermões foram proferidos nela antes da revolução. Entramos no seu interior e achei a igreja mais bela por fora. Ficamos impressionados com a beleza externa dessa igreja e cercanias.
Eunice na fortaleza de São Pedro e São Paulo em S. Petersburgo. 2013
Em seguida fomos visitar a fortaleza de Pedro e Paulo, de 1703, ano da fundação da cidade de São Petersburgo. Em novembro de 1918 foi nessa fortaleza que Trótski comandou uma reunião com soldados que apoiaram a revolução comunista no congresso dos Sovietes naquele ano e tomada do poder pelos bolcheviques. Durante a construção centenas de escravos e prisioneiros de guerra suecos morreram nos perigosos pântanos que a circundam. A Catedral de São Pedro e São Paulo, além de marco inicial da cidade é o local onde estão enterrados os Czares desde Pedro e Nicolau II e sua família.
Cesar, Eunice, Mirian e Valdeci passeando no famoso rio NEVA, S. Petersburgo 2013.
Depois fomos conhecer o rio NEVA, que quando congela no inverno forma um imenso e estranho passeio de gelo, andamos num dos barcos pequenos que passam pelas pontes rebaixadas dos canais que lembram Veneza, construídos para evitar enchentes do rio. Funcionam como uma espécie de drenos. Percorremos o canal Fontanka, afluente do Neva de 6,7 km, 70 m de largura e profundidade de 3,5 m, que corta o centro pelo Almirantado. O Moyka é um rio também afluente do Neva e tem 4,7 km e nele tem 15 pontes.
A temperatura em agosto estava parecida com a de Fortaleza -CE; 28ºC, de dia (noites sempre frias), saímos para o Rio Neva propriamente dito onde vislumbramos toda a linda cidade de São Petersburgo, Visualizamos ao sul o Golfo da Finlândia, um braço do mar Báltico, de longe víamos o Palácio de Peterhof, que além do centro histórico de São Pertersbugo fazem parte do Patrimônio histórico da Unesco. De longe vimos o museu Hermitage. Conhecemos a 25 km de distancia da cidade o palácio de Catarina, criado em 1710, por Catarina mulher de Pedro, o Grande, o primeiro e mais celebrado da dinastia dos Romanov. É um Palácio que foi residência de verão dos Czares.
Eunice no Palácio Catarina em Pushkin
Depois fomos visitar o Hermitage, uma dos maiores museus de arte do mundo, tem 3 milhões de peças de todas as épocas da história russa, o núcleo inicial foi uma coleção de 225 pinturas flamengas e alemãs pertencente em 1764 a Catarina II. O Museu está distribuído em 10 prédios ao longo do Neva e o Palácio de inverno foi a residência oficial dos Czares. O museu é um ótimo recurso cultural para quem pretende iniciar e se aprofundar em história da arte russa pois o seu magnífico e rico acervo contempla referências de todas as principais épocas e fases da vida russa e europeia e isto é um ponto de partida magistral para pesquisadores.
Eunice e Mirian em frente ao Hermitage. S. Petersburgo 2013
É tudo gigantesco, inclusive o calor muito forte naquela tarde de agosto de 2013. Decidi com a Eunice sair do museu e atravessar a sua enorme praça em frente chegando ate um quiosque do outro lado onde tomamos uma coca cola para amenizar o calor. Estava quase no final da visita, Achei estranho neste enorme museu não ter nenhum vendedor ambulante.
Praça grande do Hermitage. São Petersburgo, 2013
Sentimos até um certo desconforto pela travessia daquela imensa praça vazia. Eu também estava muito preocupado com esta desgarrada do grupo, voltamos rapidamente, encontrei o Valdeci preocupado, sentiram falta da gente e isto é muito grave numa excursão, atrapalha todo mundo do grupo. Os horários são obrigatoriamente cronometrados, sequenciados e muito rígidos. A guia e alguns companheiros nos olharam com ares de censura e uma senhora me disse que eu iria ganhar uma salva de palmas, um bolo de presente e uma garrafa de vodca se tivesse atrasado mais alguns minutos.
Eunice no museu Hermitage
Eu lhe respondi que entendia a sua preocupação, eu tinha muita experiência de viagem de grupo e sabia dos eventuais dissabores causados a todos por alguém que se atrasa. Mas seria muito bem vindo este presente de grego, melhor do que o enorme calor e mal estar decorrente que eu e a Eunice estávamos sentindo, e nos obrigaram a buscar uma coca-cola tão longe. Depois fomos ao Palácio de Catarina, um dos melhores exemplos de barroco russo. Ele também é famoso por abrigar a mundialmente famosa sala Âmbar, foi chamada de “Oitava Maravilha do Mundo”. Foi esta parte da cidade que primeiro teve energia elétrica na Europa.
O dia 22 de agosto foi totalmente livre. Fomos conhecer o metrô próximo do nosso hotel, as estações são bonitas, embora nem tanto quanto às de Moscou. Utilizamos, os 4 cearenses, a estratégia de seguir 3 estações adiante, descemos do trem, e subimos as escadarias até uma rua desconhecida e exploramos as imediações, suas lojas, seus parques e retornamos ao metrô. Após apreciarmos as gravuras da estação retornamos as 3 estações e estávamos novamente próximos ao hotel. Chegamos na hora do almoço e pedi um borscht num restaurante chamado domik. Para falar a verdade achei caro e não gostei, era tipo uma sopa meio azeda com creme de leite. Os demais comeram o tradicional salmão.
Acordamos cedo no dia seguinte com a bagagem organizada durante a noite, tomamos o generoso café da manhã e ficamos no hotel aguardando o carro que nos levaria até o aeroporto. Na portaria tinha um senhor com semblante severo, grave, fixo, nem piscava e nem olhava de lado, com uma placa entre as mãos de avisos em cirílico. Ninguém sabia do que se tratava e nem prestava atenção. Eu estava um pouco desconfiado, mas não tomei conhecimento que era um chamado para o nosso grupo se dirigir ao transporte descaracterizado em frente ao hotel até que a japonesinha da USP falou algo para o russo e nos avisou que se tratava do nosso translado para o aeroporto. É realmente difícil a comunicação por ali.
A viagem de São Petersbugo à Praga durou 1 hora e meia e chegamos no aeroporto De Ruzyne no dia 23 de agosto ao meio dia. Ainda no avião Eunice conheceu uma médica que iria participar de um congresso sobre ética médica em Praga. Eunice me confessou que um dia até poderia trabalhar nessa área. A saída do avião foi ao ar livre, não tinha uma passarela fechada, recebemos uma rajada de vento que por pouco não me derrubou no chão.
Praga é dividida pelo rio Vltava, destacam-se o Castelo de Praga e a região Malá Strana, as cidades nova, velha e o bairro judeu, tendo como ícone a ponte Carlos.
A primeira impressão que se tem de Praga é de deslumbramento, para onde a gente olha, sejam praças, pontes e monumentos, percebe-se um componente delicado, um toque artístico. Nossa guia era a Tcheca Cristina, um amor de pessoa. É de estatura baixa, loirinha e extremamente atenciosa, educada e discreta. Só faltou receber a gente com flores na chegada e eu mencionei um elogio da Cristina para a Isabelle da Casablanca turismo aqui em Fortaleza. Na data da nossa partida para o Brasil, após esses dias de visita à cidade ela foi nos apanhar no hotel, numa madrugada fria e nos acompanhou até a revisão de bagagem e ingresso na sala de embarque. A língua tcheca é complicada.
Nosso hotel era simples e aconchegante, ficamos em apartamento próximo ao do Valdeci e D. Mirian, em frente a um mercadinho que vendia tudo, até passe de ônibus. Tinha um bar nas proximidades onde se podia tomar uma boa cerveja tcheca e foi exatamente para onde fui, no mesmo dia que chegamos, sozinho para saber onde estou pisando, este é um velho costume meu. As 19 horas, ainda claro, fomos para o centro, ficamos passeando nas ruas de Praga apreciando o vai e vem de carros e pessoas.
Eunice em Nove Mesto – Praga 2013
Quando bateu fome seguimos para o restaurante NOVOMESTSKY PIVOVAR , Nove Mesto, coração comercial na cidade nova, o mais antigo e maior projeto urbanístico da Europa. As 20 horas nós 4 fomos a uma cervejaria típica de Praga, próxima ao teatro, jantamos beterraba, batatas em rodelas e uma massa tipo bolo de carne com verduras exatamente as 20:30 horas, acompanhados com canecas de chope de altíssima qualidade.
Observe-se que neste restaurante e choperia a gente fica vendo todo o processo de fabricação da bebida com a exposição dos equipamentos e serpentinas de cobre ao fundo do bar e isto parece que aumenta nosso prazer em beber a cerveja.
Nosso jantar no NOVOMESTSKY PIVOVAR – Praga-Rep Tcheca 2013
Tudo marketing. O chope tcheco vem em três diferentes graduações alcoólicas, 10, 12 e 14 graus e não me recordo bem qual foi o teor do chope que tomei.
De manhã, compramos os passes dos ônibus no mercadinho em frente. A gente pode ir para onde quiser, mas só por 3 horas. Recomendaram ter cuidado com punguistas e vendedores de moeda estrangeira, dólares.
Cesar vendo fabricar o Chopp. Praga 2013
Praga tem essa reputação, uma verdadeira praga de cambistas. Onde a gente anda tem um sujeito oferecendo dólares. Quando fomos para o centro, dentro do ônibus que passava em frente ao nosso hotel, um sujeito com cara de gangster me ofereceu câmbio e eu obviamente recusei. Por ter sido alertado antes, fiquei observando de longe e o achei extremamente suspeito. Cuidado em Praga, especialmente em descuido. Levei meu radinho de pilha para ouvir algum noticiário, mas a língua deles é hermética e absolutamente intransponível para nós. Até as notas musicais são difíceis de se traduzir.
Nossa guia Cristina nos levou inicialmente para um museu judaico, igreja e cemitério de judeus que estava fechado e que remonta do século XV. Foi nosso batismo em Praga com a nossa querida guia Cristina. Aqui foi um local muito frequentado pelo escritor Franz Kafka que era judeu, fomos a um local boêmio onde ele frequentava, Eunice tirou uma foto em frente ao café e sentada no chão ao lado de um pequeno jardim com o nome Café Kafka, do grande escritor tcheco. Ele escreveu o Processo e Metamorfose, criando inclusive a escola literária kafkiana, do impossível, do inacreditável, bem em moda agora nesses dias incríveis de um mundo em profunda transformação.
Eunice em frente ao café Kafka em Praga na Rep. Tcheca. Agosto de 2013
Do velho gueto judaico resta apenas um núcleo composto da Prefeitura Judaica (até 1850, o Bairro Judeu era uma cidade à parte), algumas sinagogas — a mais antiga, a sinagoga Staronova, de 1270, é a mais antiga da Europa. A Cidade Velha e sua Praça com barracas de guloseimas onde você pode saborear a linguiça com pãozinho típico da região, a igreja barroca de São Nicolau (o barroco da Europa Central difere do nosso barroco de procedência ibérica). Depois fomos para o Topicuv Salon, café com preço acessível, bem no centro em frente à praça central e é local de saídas de Tours. Conhecemos a igreja de Nossa Senhora, Jesuítas, Palácio da Pólvora, antiga prefeitura, câmara municipal e seu famoso relógio astronômico medieval, construído em 1410, ainda funcionando parcialmente. Diversas peças foram destruídas pelos nazistas, como o miserável, o vaidoso e os apóstolos, apêndices do relógio.
Cesar na ponte Carlos em Praga-2013
O interessante foi a visita a ponte Carlos, a mais velha de Praga e que separa partes da cidade. Tem de tudo nesta ponte sempre animada e cheia de turistas, músicos, pintores, poetas, vendedores de lanches e muita gente bonita e do mundo todo. A ponte começou a ser construída e 1357 e hoje está protegida por 3 torres. Esta magnifica ponte de 516 metros de cumprimento é conhecida pelas suas 30 estátuas de santos. A Ponte Carlos é a memória de mais de 600 anos de guerras, procissões e execuções e ao longo de 400 anos foi a única ligação entre as duas margens do Moldava. É um ícone de Praga. Visitamos a Igreja do Menino Jesus de Praga de onde trouxemos orações abençoadas. Nessa Igreja tem uma mensagem especial enviada pela nunciatura de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Ao meio dia estivemos no Castelo de Praga, e logo em seguida fomos para a Catedral de São Vito construída em 1344. Tudo ali é muito velho, mas muito bem conservado. Fomos a Zahrada Valech, onde se tem uma vista panorâmica da cidade e em seguida aos pontos turísticos em Jeleni e Clementinum, complexo histórico de prédios com museus, Igrejas e órgão públicos.
Cesar, Valdeci e a tcheca Cristina na entrada do Castelo de Praga, 2013.
Chegou a hora do almoço e fomos para um restaurante central onde comemos frango com batatas e compramos 4 ingressos para assistirmos a um concerto que começaria as 16 horas na casa municipal.
Ficamos andando pelo centro e quando chegou a hora, fomos até aquela belíssima casa de espetáculo. Os músicos eram de altíssima qualidade, só musica instrumental na base de violinos, repertório impecável, silêncio da seleta plateia (cerca de 300 pessoas) silêncio absoluto, e acústica apuradíssima, só parava para os aplausos contidos. Mas, quase no final, ainda bem, eis que baixinho, o celular do Valdeci recebe uma chamada e ele de uma forma extraordinariamente rápida, dá um salto e imediatamente desliga o aparelho. Olhei de lado, ninguém percebeu. Graças. Mais tarde perguntei de onde era o chamado e o Valdeci me disse olhando de lado; era do Chaguinha, vixe, nosso bar predileto de Fortaleza, ali pertinho da reitoria. Estavam de longe nos mandando sinais.
Eunice no Shopping Center em Praga, agosto de 2013
No dia 25 de agosto nós 4 fomos até o ônibus, após comprarmos umas frutas defronte ao hotel para passear no centro de Praga. Fomos bisbilhotar umas lembranças de Praga no Cerna Ruze, shopping center em Nove Mesto e descansamos em praças arborizadas, vendo as fachadas de belíssimos prédios, arquitetura ricamente preservada, sem nada pichado. Nesses momentos me lembro do Brasil, infelizmente nossas cidades são emporcalhadas com esses desenhos inteligíveis, as famosas pichações que alguns ainda teimam em defender, balões e até urubus de lixões que podem derrubar aeronaves.
Percorremos as belas ruas e vimos lojas de grife como HM, Douglas, Vutton. Valdeci até me sugeriu comprarmos umas camisas em conjunto para se obter maiores descontos, uma excelente sugestão para quem viaja em grupo. Praga é incrivelmente bela e adorei a praça Wenceslau com seus bares, cafés, pessoas bonitas passeando. Chamou minha atenção uma família (Pai, Mãe e talvez a Filha) de músicos se apresentando naquela praça e recebendo dos turistas que povoavam o bucólico local oferendas em dinheiro dentro de uma caixinha. Escolhemos um restaurante central e almoçamos costeletas de porco com batatas. Valdeci afirmava peremptoriamente que se a gente usasse o cartão no débito não pagaríamos IOF e Eunice dizia que não. D. Mirian e eu assistimos aquela teima e até hoje não sei direito quem tinha razão.
Cesar e Eunice antes do concerto na casa municipal, 2013.
Terminamos o almoço e tomar o ônibus, a gente queria conhecer mais um pouco de Praga e voltarmos de graça no ônibus para o hotel. Seguimos viagem e o ônibus no deixou no final da linha, dizendo o motorista, pelo passe que exibimos que a gente não tinha mais direito de voltar, as 3 horas tinham se passado. E neste local não existia táxi, por sinal um sítio meio esquisito. Isto nos deixou chateados e voltamos para o centro no pé dois. Pelo menos a gente não estava com fome. Pegamos um táxi na maior sorte perto do centro e viemos para o hotel, todos estávamos calados, remoendo os fatos ocorridos. Neste dia fomos dormir mais cedo.
De manhã tomamos café e passamos o dia arrumando as malas, fizemos mais algumas compras no centro de Praga juntos. De noite tomamos um vinho no apartamento do Valdeci e D. Mirian. Às 3 da manhã Cristina veio nos buscar no hotel com um carro e motorista contratados. Ela parecia que era nossa amiga há muito tempo, é esse tipo de pessoa que cativa e marca a gente e demos nela um forte abraço de despedida. Foi uma viagem memorável.
Poucos dias depois que chegamos à Fortaleza, fiz um elogio da guia Cristina de Praga sobre sua competência e presteza a agente de viagens Isabela da Casablanca de turismo e ela aproveitou o momento e me pediu por escrito minhas impressões sobre a viagem da Rússia acompanhada de uma foto para publicar na revista da empresa de turismo.
Iniciamos a viagem para Copenhague pela TAP em 2 de abril de 2012. Na manhã do dia seguinte, antes do pouso no nosso destino final, vi um grande empreendimento de geração de energia eólica. Dentro do mar. Chegando a Copenhague os nossos cunhados pernambucanos nos receberam efusivamente. De imediato discorreram sobre algumas impressões preliminares da cidade, que tem 500 mil habitantes e possui 350 km de ciclovias. Tem até uma autoestrada só para ciclistas.
Durante a manhã fizemos um tour por Copenhague. Visitamos o parque Tivoli e demos uma passada em frente ao palácio Amalienborg, residência da família real.
Eunice e Cecília em frente ao Palácio Real da Dinamarca. Copenhague 2012
O palácio fica perto da orla onde compramos os ingressos para um city tour. Fizemos um passeio que margeou toda a pitoresca cidade onde víamos aquelas construções típicas, alegres casinhas coloridas com teto inclinado e conhecemos a famosa pequena sereia, um ícone da cidade e do folclore dinamarquês.
A cultura dinamarquesa contém fortes traços nacionalistas em que a solidariedade entre eles, à confiança, e a liberdade são conceitos profundamente enraizados e orientado pela igualdade.
Na tarde do dia 5 de abril partimos para Billund, cidade a 280 km de Copenhague e primeiro trecho do percurso a ser percorrido pela nossa perua alemã OPEL que alugamos. A viagem foi tranquila e demoramos cerca de 3 horas e 40 min pela E20. O trajeto de Copenhague a Billund é por Odense e Vejle e o destaque dessa viagem foi atravessar a Ponte do Grande Belt.
Completamos no tanque (a gente mesmo e quem coloca), 45 litros de gasolina por cerca de R$ 200,00, a moeda deles é a coroa dinamarquesa, 1 coroa valia R$ 0,47. Fomos para o hotel Legolândia, onde eles tinham uma suíte reservada. Nós seguimos para o hotel Zleep mais simples, perto do aeroporto em Billund.
Setor feito de Legos dentro do parque =2012
De manhã tomamos o café e fomos para Legolândia. O hotel que eles ficaram fica dentro de um parque e quem é de fora compra um bilhete para frequentar 1 ou mais dias, tem mais de 40 atrações, imperdível para todos os amantes da filosofia e proposta LEGO. O Parque é todo montado de legos e dividido e estruturado em inúmeras zonas temáticas. Vale a pena este passeio.
Após a visita matinal no parque de LEGO, fomos para um restaurante próximo, em Vejle, onde saboreamos um peixe arenque muito gostoso. La fora estava abaixo de zero. Nosso prato escolhido foi o smørrebrød, (traduzido ao pé da letra, pão com manteiga), mas o Smørrebrød são sanduíches abertos cobertos de peixes, carnes, queijos e ovos. Ele é preparado ao molho curry, dá pouco trabalho para fazer e é fonte de vitamina D. Combinado com o rugbrød dá uma sensação de saciedade que se prolonga pela tarde toda.
Partimos no dia 7 de abril pela manhã com destino a Aarhus, distando 100 km de Billund, bela cidade dinamarquesa, e chegamos num pequeno shopping. Estes locais não são muito vistosos, pode-se dizer que as lojas são acanhadas e modestas, com pouca variedade. A Escandinávia não é definitivamente uma região consumista como conhecemos.
Na Escandinávia as pessoas buscam e tem o necessário, não vi muita ostentação. Temos que carregar nossa própria bagagem nos hotéis. É costume se sair de casa pela manhã e deixar a porta destrancada, acender velas de noite, falar baixo e levar sacolas para trazer as compras no supermercado. Eles tem o costume de manter sempre uma bandeira da Dinamarca tremulando nos quintais.
Almoçamos em Aarhus na Dinamarca e visitamos o seu museu nacional de história urbana. Seguimos viagem rumo à cidade norueguesa de Kristiansand e no ferrys com nosso carro atravessamos em 4 horas o mar do Norte até a cidade de Kristiansand.
Eunice em Aarhus, cidade da Dinamarca-2012
Seguimos para Stavanger, a 240 km de Kristiansand, com um porto extremamente movimentado. A cidade é a porta de entrada dos fiordes. Entrei numa lojinha que tocava a música brasileira ’‘ai se eu te pego” e a moça da loja ria muito animada. O comércio não tem muito movimento, achei modesto. Tem pouca variedade nas ofertas, reflexo de uma estrutura de demanda pouco perdulária.
Na manhã seguinte fomos para a gelada cidade de Bergen na costa oeste da Noruega, e chegamos as 11 horas onde fomos direto para o Clarion Hotel.
Eunice em frente ao Clarion Hotel em Bergen na Noruega em 2012
Depois do almoço conhecemos a catedral de Bergen, e em seguida subimos num funicular no Monte Floyen. Compramos passagem de ida e volta, mas bastava a ida. Nos disseram que a descida a pé tem atrações turísticas indescritíveis em belas e suaves trilhas. Pela primeira vez vi neve na viagem , estava no final do degelo em abril e tiramos uma foto tradicional no blog pegadas na estrada.
Cesar e Eunice no monte Floyen, Bergen-Noruega em 2012
No hotel de Bergen conhecemos um recepcionista argentino que casou com uma norueguesa e mora há 6 anos em Bergen. Ele me disse que não é fácil conseguir visto norueguês e dei para ele uma garrafinha de areia colorida de Aracatí-CE. Ele me disse que para morar neste País tem de entender o norueguês, obter uma indicação ou casar com uma mulher norueguesa. As pessoas entendem que não adianta confiar apenas num ente superior e imaterial. Devem antes, confiar, acreditar nas pessoas com quem convivem. Achei isso legal e profundo. A Noruega era um País pobre, que vivia da pesca até a década de 50 e começou a prosperar com a descoberta do petróleo. Hoje possui um dos maiores IDH do mundo.
Eunice na estrada para Bergen. 2012
Dormimos novamente em Bergen. Pela manhã fomos ao seu famoso mercado do peixe, mas não vi nada de especial e relevante. Fomos a estação comprar os bilhetes para um passeio de barco, vislumbramos os fiordes, lindas paisagens e passarelas de embarques e desembarques populares, que as pessoas utilizam rotineiramente para o trabalho e lazer. Descemos na última vila da linha.
Nesta viagem de ida tive uma conversa com um norueguês que havia estudado no México e trocamos algumas ideias. Lembro-me de que ele me acentuou enfaticamente em espanhol, na Noruega tem alguma corrupção, mas o político sabe que se for apanhado, flagrado, vai ter punição exemplar.
Eunice e as esculturas em Oslo
No dia 9 de abril viajamos para Oslo, capital da Noruega, distando 460 km de Bergen, com muita neve na estrada, mesmo no mês de abril. Passamos numa estação de esqui e soube que era a mais antiga da Noruega, Geilo. Próximo a um local com estacionamento paramos e fomos brincar na neve onde fiz uma filmagem, mas com precaução.
Eunice em Bergen na Noruega – 2012
Chegamos à Oslo no final da tarde. É uma cidade muito cara, fria e segura, típica cidade nórdica. Após ingresso no hotel saímos no começo da noite para o Parque Slottsparken e o Palácio Real, que achei relativamente modesto. Na manhã do dia 10 de abril fomos ver as provocantes e imperdíveis esculturas de Gustav Vigeland, também visitamos o museu de Oslo.
Eunice em Oslo, Noruega 2012
Uma comida que me chamou bastante atenção em Oslo foi o seu pão, são inúmeras opções nas padarias. Não tinha experimentado antes croissants tão saborosos, crocantes, finos e bem feitos como os das estradas e cidades da Escandinávia. Sinceramente, não gostei muito dos peixes de lá, nisso nosso País é imbatível.
Tomamos o café cedinho em Oslo, pagamos o hotel e iniciamos a viagem de 500 km para a capital da Dinamarca, Copenhague. Seguimos viagem, passamos em Moss e entramos na Suécia onde viajamos durante todo o dia. Confesso que foram as estradas da Suécia que mais me impressionaram. Percebi uns detalhes interessantes, nas curvas elas mudam de cor e de textura para oferecer aderência ótima aos pneus do carro. Uma maravilha de estrada, tanto de conservação quanto de sinalização e acostamento. Paramos em um shopping e fizemos compras de alguns utensílios, inclusive uma garrafa térmica vermelha diferente que tenho até hoje e sempre me recordo da Suécia quando uso.
Tive uma decepção quando chegamos em Gotemburgo, cidade que eu queria conhecer por causa da fama, no Brasil devido a um jogo memorável da nossa seleção de futebol campeã de 1958 com Pelé e Garrincha. O que observei foram passagens sem nenhuma relevância e onde experimentamos um feroz engarrafamento, o mais sério de toda viagem, era hora do rush. Saímos de Gotemburgo o quanto antes e quando encontramos o primeiro restaurante num trecho mais tranquilo de trânsito, paramos para almoçar.
Eunice em Helsingborg -Suécia 2012
As 16 hs chegamos em Helsingborg, na praça Stureplan onde presenciei o mais lindo entardecer de toda viagem nesta cidade portuária de 100 mil habitantes, um polo industrial que liga a Suécia com a Europa. Tiramos umas fotos e fomos jantar no restaurante The Bishops Arms no porto.
Cesar e Eunice em Helsingborg- Suécia 2012
Pedimos um peixe e na hora de pagar a conta reclamamos que não estava bom. O garçom ouviu nossas queixas e não aceitou o pagamento e em seguida nos serviu outro peixe que veio um pouquinho melhor. Continuando a viagem passamos em Malmo, cidade com 300 mil habitantes no extremo sul da Suécia, o GPS por 3 vezes não encontrava o caminho de Copenhague. Até que em um momento entramos numa ponte sobre o estreito de Øresund. Era noite, e atravessamos a ponte separando Malmo, na Suécia de Copenhague, Dinamarca, a ponte é usada por cima e por baixo do mar, ela foi inaugurada em 2000 e construída em 5 anos e é dividida em 3 trechos, um sobre o mar, um submerso e um construído sobre uma ilha totalizando 16 km. Fica a dica para quem for conhecer Copenhague, mas, por favor, vá de dia. Afirmo que é o mais espetacular ponto turístico de Copenhague. Imagino o trabalho para se construir esta ponte num País que tem as rochas mais duras do mundo.
Chegando ao hotel, arrumamos as malas e fomos dormir para enfrentar a grande viagem de retorno ao Brasil na manhã seguinte. Nosso avião ficou retido 4 horas em Frankfurt na Alemanha por uma greve dos aeroviários. Quando chegamos à Lisboa, o avião que nos levaria para Fortaleza, no Brasil, tinha partido. A TAP nos forneceu o voucher para o hotel e transporte e deu tempo de noite para uma visita rápida ao Shopping Vasco da Gama onde fizemos algumas compras imprescindíveis, estávamos apenas com as roupas do corpo. Na viagem de retorno conversamos com uma cearense que mora em Bergen, na Noruega. Ela nos disse que tinha se casado com um Norueguês, se separado e que amava morar naquela cidade. Disse que lá as pessoas se reúnem 1 ou 2 vezes por ano, principalmente no natal e que pagam muito imposto. Ela tinha arrumado um segundo emprego e estava ansiosa para ver a mãe que não visitava há três anos em Fortaleza.
Em dezembro de 2011 soube que meus cunhados que moram no Recife pretendiam viajar para a Escandinávia. Levariam o filho de 8 anos ao parque temático chamado Legolândia onde tudo é feito de LEGOS. Aproveitariam a viagem para visitarem algumas cidades da Noruega e Suécia.
Eu tinha interesse de melhor compreender o modelo LEGO de Billund, que foi inventado em 1932 pelo carpinteiro dinamarquês Ole Kirk Christiansen. O LEGO me parecia se coadunar com os preceitos pedagógicos de Jean Piaget, que estimula a plasticidade e interação entre o aprendiz e o objeto de aprendizagem, um influenciando o outro. É uma corrente pedagógica, o construtivismo, que se coaduna com o Estado de bem estar social. Um modelo de educação que realmente priorize o conhecimento contextualizado, diferente do modelo enciclopédico. Interessante lembrar que diversos Países do mundo adotaram estes LEGOS.
O Reino da Dinamarca é o mais meridional dos países nórdicos, a sudoeste da Suécia e ao sul da Noruega. Recentemente a ONU afirmou que a Dinamarca e outros Países escandinavos possuem os maiores índices de felicidade do mundo. É um verdadeiro estado que se aproxima do bem estar social, promovendo a mobilidade social e assegurando a prestação universal de direitos humanos e a estabilização da economia. De acordo com estatísticas de 2012 a população é de 5,5 milhões de habitantes e as cidades mais populosas são Copenhague e Arhrus. A idade média é de 41,4 anos, 99% da população é alfabetizada, a taxa de fecundidade é de 1,73 filhos por mulher em 2013. O inglês e o alemão são as línguas estrangeiras mais faladas naquele País.
Às vezes confundido pelos norte-americanos como socialistas e simultaneamente criticados pelos escandinavos como excessivamente capitalistas, o jornal britânico The Economist publicou em 2013 que os países nórdicos “são provavelmente os mais bem governados do mundo”. Eles possuem a mais alta classificação no PIB real per capita.
A Dinamarca compartilha uma fronteira de 68 km com a Alemanha e é cercada por 7 314km de mar (incluindo pequenas baías e enseadas).[Possui área total de 43 094km² e é do tamanho do Estado do Rio de Janeiro. Desde 2000 a Dinamarca está ligada à Suécia pela Ponte Oresund.
Troquei algumas ideias e informações com os companheiros de viagem pernambucanos e combinamos de comum acordo traçar um plano de viagem expresso mais detalhadamente no mapa abaixo.
Nosso plano incluiu Copenhague, Billund, Alborg e Arhus na Dinamarca, Kristiansand, Stavanger, Bergen e Oslo na Noruega, Gotemburgo e Helsingborg na Suécia. Na fronteira sueca em Malmo atravessamos a ponte Oresund para Copenhague de onde retornamos para o Brasil.
Percebi depois da viagem 2 grandes falhas no roteiro definido no nosso plano. A primeira foi não ter conhecido uma extraordinária obra da natureza, a Pedra Solta em Lysebotn na Noruega que fica a apenas 87 Km de Stavanger, nas montanhas gêmeas de Kjerag. Perto do local tem o hotel Lysefjorden Turisthytte onde ficam hospedes aficionados pelo esporte radical BASE Jumping.
Pedra solta na Noruega
A segunda falha foi não ter prestado mais atenção para uma extraordinária obra construída pelo ser humano, um verdadeiro selo e atestado de excelência da engenharia escandinava. Ressalte-se que a região tem as suas rochas extremamente duras, razão da qualidade de seus equipamentos de perfuração. A Ponte Øresund custou 1,5 bilhão de dólares e separa Malmo na Suécia, de Copenhague na Dinamarca. Ela foi inaugurada em 2000, feita em 5 anos, e é dividida em 3 trechos, um sobre o mar, um submerso e outro construído sobre uma ilha artificial, totalizando 16 km.
Ponte que liga Malmo na Suécia com Copenhague
Passei por esta ponte de noite, chovendo, só então percebi se tratar de algo extraordinário.
Os 600 Km de Salzburgo para Frankfurt foram percorridos com uma certa lentidão pois foi um dia chuvoso e nevando em alguns momentos. No final todos se encontraram felizes e ainda tomamos uns drink´s no saguão do bar no hotel Holiday inn em Frankfurt.
No dia seguinte, 16, saímos num táxi para um centro comercial importante de Frankfurt, ali na rua Zeil, onde não vi grandes vantagens. Andréa comprou bugigangas, inclusive uns óculos até bonitos por metade de euro cada. Eunice comprou umas coisas também. Nesse dia passei um sufoco danado por me sentir como se estivesse sempre embrulhado com aquela indumentária toda contra o frio. Após aguardar Eunice às 16 horas em ponto defronte a loja da rua ZEIL e ela não chegar, retornei ao local que tinha deixado D.Ana e Andréa, um quiosque no passeio da rua. Quando fui pagar a conta dos lanches de 16 euros, só conseguimos juntar 15 euros. Tive que ir novamente ao banheiro num porão de difícil acesso do restaurante por uma escada íngreme, estreita e mal iluminada, cheia de pequenas salas, antessalas e câmaras. Com preguiça de ir até o diminuto banheiro, parei numas daquelas salas e tentei retirar o porta dinheiro de dentro da cueca pela cabeça, para evitar ter que tirar as botas, 2 meias, ficar descalço, tirar 3 calças e a cueca, quando umas 3 senhoras abriram a pesada porta naquela penumbra e viram a marmota, gritaram e voltaram correndo, até que me desvencilhei e tateei para achar o caminho de volta. Tratei de pagar a conta com um euro que faltava e sair rapidamente do local com as 3 para um táxi próximo enquanto vi de longe umas senhoras apontando para mim. Foi um grande mico. Chegando ao hotel tratamos de organizar nossa bagagem para a longa viagem de retorno ao Brasil.
Decolamos ás 10 horas da manhã, sem burocracia, todos muito alegres do maior aeroporto de cargas do mundo. A viagem durou 10 horas, direto e sem escala, chegamos as 8 horas da noite no horário da Alemanha e 16 hs
no horário de Fortaleza. Todos muito bem de saúde. Alguns alemães fizeram algazarras e excederam um pouco na cerveja dentro do nosso avião, mas isto faz parte, eles estavam alegres e fugindo daquele frio glacial. Afinal de contas eles vinham para esse nosso paraíso tropical.